Considerações sobre Histeria e Gênero: Uma Análise do Fandom de One Direction e suas Implicações Culturais

Abstract

Este trabalho pretende analisar como os discursos midiáticos construíram imagens sobre as fãs da banda One Direction, frequentemente associando suas manifestações afetivas a noções de histeria, instabilidade emocional e irracionalidade. Para isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, fundamentada na análise de matérias jornalísticas, fotografias e conteúdos audiovisuais produzidos entre 2010 e 2015, período que corresponde ao auge do grupo. Além do recorte temporal principal, o estudo também abrangeu notícias e publicações posteriores à separação da banda, com o intuito de investigar se essas narrativas permanecem em fandoms contemporâneos e se os estigmas atribuídos às jovens mulheres continuam sendo reproduzidos nos meios de comunicação. O corpus foi composto a partir de buscas direcionadas em plataformas digitais e redes sociais, com palavras-chave relacionadas ao fenômeno cultural da One Direction. A análise dialoga com autoras e autores como Simone de Beauvoir (1980), Judith Butler (2018), Angela McRobbie (2009), Henry Jenkins (1992; 2006; 2013), Kaitlyn Tiffany (2022) e Lucy Bennett (2012), fornecendo um referencial teórico para compreender como gênero, emoção e cultura se articulam na formulação desses discursos. Os resultados apontam que jornais e veículos audiovisuais tendem a reforçar estereótipos que desvalorizam o comportamento de fãs, enquanto expressões semelhantes de públicos masculinos, como torcedores de futebol, são geralmente legitimadas. Este estudo contribui para os estudos culturais ao propor uma reflexão crítica sobre o papel da imprensa na manutenção de desigualdades simbólicas e sobre o potencial criativo, político e social presente nas comunidades de fãs.