Mulata, doméstica e mãe preta: representações da mulher negra em contos da literatura brasileira

Abstract

O presente trabalho tem como objetivo analisar representações da mulher negra na literatura brasileira de transição entre o século XIX e o início do século XX, por meio dos contos “A escrava”, de Maria Firmina dos Reis, “Mariana”, de Machado de Assis, e “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto. A pesquisa parte da constatação de que as personagens femininas negras foram, historicamente, representadas de forma estereotipada, ocupando papéis subalternos como doméstica ou mulata hipersexualizada, conforme apontado por Souza (2017), para que seja possível perceber como os autores e a autora trabalham com a manutenção de determinados arquétipos atribuídos à mulher negra; e também identificar os momentos em que há ruptura desses modelos na construção de novas possibilidades de representação. A metodologia adotada é de natureza qualitativa, com abordagem teórico-bibliográfica. Autoras como Sueli Carneiro (2023), Kimberlé Crenshaw (2002), Conceição Evaristo (2005), Lélia Gonzalez (2020) e estudiosos da obra dos autores analisados. A partir da análise foi percebido que essas personagens não são apenas uma tentativa de representação de seu tempo, mas também documentos históricos e literários que denunciam desigualdades. Ao tensionar imagens cristalizadas e propor novas subjetividades, essas narrativas geram ressonâncias na literatura produzida e lida hoje, promovendo debates sobre memória, identidade e justiça histórica, e abrindo caminhos para vozes que antes eram silenciadas ou estereotipadas.