Histórias de vidas de estudantes pernambucanos sobre as experiências de mobilidade acadêmica internacional, do Programa Ganhe o Mundo (2012-2022), da Rede Pública de Ensino

Abstract

A experiência de mobilidade acadêmica dos estudantes do Ensino Médio, do Programa Ganhe o Mundo em Pernambuco (2012-2022) é uma tese que apresenta aspectos distintos de outras pesquisas pelo ineditismo e pela inovação em seu desenvolvimento. O PGM enviou oito mil quatrocentos e noventa e sete estudantes para onze países: EUA, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, Espanha, Alemanha e Inglaterra. Até o momento, existem lacunas sobre os possíveis resultados dessa experiência internacional na vida dos discentes. A nossa inquietação se inscreve não somente pelo fato de que não há estudos acadêmicos que analisem o impacto desse programa na vida dos estudantes pernambucanos, mas se propõe a analisar o processo de estabelecimento construído na relação dos estudantes intercambistas no país estrangeiro com a configuração familiar e escolar. O questionamento investigativo tem como foco as seguintes proposições: em que medida a experiência de intercâmbio contribuiu para o desenvolvimento de disposições dos estudantes e fomentou estratégias identitárias apreendidas? Será que visualizamos, na experiência de intercâmbio, indícios da relação de poder entre estabelecidos (residentes no país) e outsiders (alunos PGM) com implicações para o desenvolvimento biopsicossocial dos estudantes? A pesquisa foi estruturada de acordo com o objetivo geral que consistiu em analisar o processo de estabelecimento construído na relação dos estudantes intercambistas no país estrangeiro com a configuração familiar e escolar. No intuito de aprofundar o estudo, delimitamos os seguintes objetivos específicos: compreender a trajetória de vida dos estudantes diante da experiência de mobilidade acadêmica; identificar as redes de interdependência estabelecidas entre os estudantes intercambistas e entender as táticas adotadas dos estudantes para se manter no intercâmbio consoante à relação estabelecidos-outsiders. A fundamentação teórica baseia-se nos pressupostos teóricos de Norbert Elias e Bernard Lahire, que são distantes no tempo histórico, contudo se aproximam em reflexões sociológicas. Como metodologia, adotamos a história oral de vida que resultou em dez retratos sociológicos dos estudantes pós intercambistas do PGM. Para aprofundamento, utilizamos a análise de redes para mapear a interdependência entre eles e demais atores envolvidos na história de suas vidas. Como resultado de nossa pesquisa, identificamos que a experiência de mobilidade promovida pelo PGM contribuiu de forma significativa para a vida dos estudantes, influenciando as diversas dimensões de seu desenvolvimento biopsicossocial, resultando em mudanças na forma de ver, sentir e agir, diante da vida. A descrição narrativa das trajetórias dos estudantes do nascimento até a experiência atual, sendo interceptados pela experiência de intercâmbio, possibilitou a construção de suas histórias de vida mediante memórias, com a verificação de redes interdependentes de suporte emocional e social que minimizaram as dificuldades da experiência e o choque cultural. As táticas adotadas pelos estudantes ao longo da experiência de intercâmbio foram as mais diversas e demonstraram a capacidade que os indivíduos têm de superação e ressignificação. A relação estabelecidos-outsiders, caracterizada pela maioria dos intercambistas, não impediu nenhuma ação de superação dos estudantes em todos os momentos de desconforto causados na mudança de vida.