Geologia aplicada à gestão de riscos em áreas urbanas: estudo de taludes com ocupações vulneráveis próximo à obra linear

Abstract

Visando fornecer subsídios técnicos essenciais para projetos de engenharia e auxiliar na tomada de decisões dos gestores públicos, esta pesquisa avaliou detalhadamente o risco de escorregamentos no talude do Alto da Telha, em Passarinho, Recife, área com ocupação vulnerável e histórico de instabilidade. No estudo mensurou-se a possibilidade de ocorrência de movimentos gravitacionais de massa, com objetivos específicos que incluíram: mapeamento qualitativo de risco geológico com classificação de R1 a R4; análise de estabilidade nos setores críticos onde se calculou o Fator de Segurança (FS); e detalhamento da evolução fenomenológica da região, hierarquizando os mecanismos de ruptura identificados. A metodologia adotada compreendeu três etapas principais. Primeiramente, realizou-se o mapeamento de risco geológico conforme metodologia do IPT (2007), envolvendo levantamento de informações preliminares, revisão bibliográfica e visita técnica para identificação e setorização dos riscos. Em seguida, obtiveram-se parâmetros geotécnicos fornecidos em parceria pelo projeto Morros de Vontade, os dados foram obtidos por meio de ensaios de campo (SPT) e laboratoriais (umidade, granulometria, limites de consistência e cisalhamento direto). Por fim, efetuou-se modelagem numérica no software Slide2, integrando a geometria do talude e os parâmetros geotécnicos em condições naturais e saturadas. Os resultados demonstraram que a região estudada apresenta evolução do meio físico mista, combinando intervenções planejadas (cortes para construção da rodovia) e intervenções espontâneas devido ao modelo de ocupação (caracterizada por cortes e aterros irregulares, remoção da vegetação e saneamento básico deficiente) fatores estes que intensificam os riscos. Foram identificadas diversas evidências de movimentação, como inclinação de árvores, trincas em drenagens, intumescência basal, superfície de ruptura exposta e escarpa de deslizamento. A Formação Barreiras apresentou zona de contato instável na interface entre camadas arenosas e argilosas sob saturação. O mapeamento de risco classificou dois setores como Risco Muito Alto (R4), um como Alto Risco (R3) e outro como Médio Risco (R2). As simulações numéricas revelaram FS entre 1,136 e 1,349 em condições naturais, reduzindo para 0,920 a 1,115 em condições saturadas, com o perfil B-B' apresentando FS < 1,0, indicativo de ruptura iminente. Todos os valores de FS ficaram abaixo do mínimo de 1,5 exigido pela NBR 11682/2009 para áreas que demandam alto nível de segurança. Conclui-se que o talude apresenta condição crítica de instabilidade devido às heterogeneidades da Formação Barreiras, cujo contraste de permeabilidade desencadeia saturação diferencial e redução das tensões estabilizantes, especialmente nas zonas das cotas 70, 55, 50, 43, 40 e 38 metros. Mantidas as condições atuais, eventos destrutivos nas próximas chuvas são altamente prováveis, ameaçando 45 moradias na crista do talude. Conforme a Lei nº 12.608/2012 (art. 3º-A) e o Decreto nº 33.080/2019, urge a implementação de monitoramento geotécnico contínuo, medidas estruturais de contenção e reassentamento das famílias em risco elevado pelos órgãos municipais. Os escorregamentos na região resultam de planejamento urbano excludente, fiscalização inadequada e morosidade na aplicação de políticas públicas, exigindo ações imediatas para prevenir tragédias anunciadas.