Polêmicas desqualificadoras e processos interativos de letramentos: reflexões sobre o letramento crítico-digital no ensino de Língua Portuguesa

Abstract

O discurso digital carrega singularidades que se diferenciam das interações que ocorrem fora da web, em perspectiva pré-digital, o que aponta para a necessidade de se considerar as particularidades dessa esfera de interação discursiva, sob uma concepção pós-dualista da linguagem. À vista disso, este trabalho objetiva analisar as polêmicas desqualificadoras, envoltas em processos e peculiaridades do tecnodiscurso, como possibilitadoras de um trabalho teórico-metodológico sobre o letramento crítico-digital, nas aulas de Língua Portuguesa. Para isso, escolhemos o ecossistema Instagram como ambiente a ser estudado, selecionando três perfis verificados e suas postagens que compuseram o corpus expandido, que gerou o corpus restrito. Este utilizado para tecer considerações sobre as polêmicas desqualificadoras e o tecnodiscurso, pois evidenciou mais consistentemente o nosso objeto de pesquisa. Assim, com base nos conceitos-categorias de análise advindos dos estudos de Paveau (2021) e Amossy (2017), selecionamos 4 (quatro) publicações completas, com seus respectivos comentários, e realizamos uma análise descritivista-interpretativista pautada no perspectivismo em rede, como proposto por Malini (2016) e Recuero (2009). Os resultados obtidos apontam para o fato de que, ainda que a polêmica possua uma função social importante limitada à esfera democrática (Amossy, 2017), no ambiente digital a busca incessante por engajamento transforma o diálogo em troca de insultos. Para que tal fenômeno ocorra, observamos que determinados recursos retóricos e provenientes do próprio ambiente digital facilitam a ciberviolência discursiva, ainda que o Instagram institua configurações que busquem minimizar tais confrontos, como a limitação de comentários. Dessa forma, identificamos a necessidade de que o trabalho com as TDIC, nos processos do ensino de práticas de linguagem, seja pautado em um continuum do letramento (Janks, 2018), que considere tanto os aspectos constitutivos do ambiente digital, quanto a dimensão crítica dos discursos circulados on-line. Isso porque, além dos documentos curriculares oficiais demonstrarem a necessidade de uma abordagem crítica da cultura digital, não há a possibilidade de haver um letramento digital responsável sem que sejam desenvolvidas noções críticas acerca de seu funcionamento, no ambiente digital, que favorecem as interações tecnolinguageiras.