Influência do trafego veicular nas estratégias reprodutivas do musgo Calymperes palisotii Schwägr em ambientes urbanos

Abstract

O tráfego veicular é um dos principais responsáveis pela dispersão de dióxido de carbono (CO2) e aumento da temperatura nos centros urbanos. Na Região Metropolitana do Recife, o quantitativo de veículos é de 713.930, o que significa cerca de 3 veículos por pessoa. O musgo Calymperes palisotii Schwägr. é amplamente distribuído por toda a cidade, de fácil identificação taxonômica, e é um eficiente bioindicador e biomonitor de qualidade ambiental. Neste trabalho, o tráfego veicular foi utilizado como um proxy de emissões de CO2 para avaliar a sua influência nas estratégias reprodutivas sexuada e assexuada do musgo C. palisotii em diferentes localidades da Região Metropolitana do Recife. Foram inventariadas sete avenidas e uma praça, para as quais foram obtidas informações de tráfego veicular no período de 2016 a 2020 (através da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife - CTTU), além de três Unidades de Conservação, como áreas de controle, com tráfego veicular insignificante em seu interior. Em cada localidade, foram selecionadas três árvores distanciadas ca. 100m entre si e, em cada uma, coletada uma amostra (população) de 25 cm² do musgo. Foram escolhidos aleatoriamente 200 indivíduos em cada amostra para observação da presença ou ausência de estruturas reprodutivas sexuadas (esporófito) e assexuadas (gema). Posteriormente, 30 indivíduos aleatórios de cada população foram observados para anotação da presença de gametângios masculino e feminino. A frequência das estratégias de reprodução foi relacionada com a média do tráfego veicular no período considerado, através de GLM, e comparada entre as localidades com Kruskal- Wallis. A localidade com maior frequência dos atributos reprodutivos foi a RVS Matas do Sistema Gurjaú, enquanto a Av. Mascarenhas de Moraes, que apresenta maior tráfego, foi a mais afetada negativamente. O tráfego veicular influenciou negativamente a frequência de reprodução sexuada, assexuada e de gametângios femininos. Em contraste, a frequência de indivíduos sem reprodução e com ausência de gametângios aumentou significativamente com o tráfego. Este estudo evidencia como as mudanças no ambiente, induzidas pelo aumento do tráfego veicular e, consequentemente, das emissões de CO2 e temperatura, enquanto a umidade diminui, afetam as estratégias de reprodução do musgo C. palisotii, resultando em uma diminuição da frequência das estruturas reprodutivas e um aumento da frequência de indivíduos sem reprodução.