Impacto da infecção pelo SARS-CoV-2 em pacientes com anemia falciforme

Abstract

A anemia falciforme (AF) é uma doença genética autossômica recessiva causada por uma mutação no gene da beta globina (HBB) que leva à substituição de um ácido glutâmico por uma valina no sexto códon dessa cadeia. Essa alteração gera uma hemoglobina mutada (HbS) que ao sofrer desoxigenação polimeriza dentro do eritrócito, o qual passa a ter formato de foice, de onde vem o nome da doença. Essa alteração provoca uma série de consequências fisiopatológicas diversas como crises vaso-oclusivas (CVO), dor aguda e síndrome torácica aguda (STA) além de caracterizar seus portadores como mais propensos à hemólise, imunocomprometimento e um estado crônico de inflamação. Desta forma, esses indivíduos possuem uma maior suscetibilidade a infecções, incluindo a doença causada pelo SARS-CoV-2. A COVID-19 pode causar complicações em múltiplos órgãos, em especial o pulmão, se tornando um possível fator de risco para pacientes com essa hemoglobinopatia. Este presente trabalho teve como propósito fornecer uma visão geral da literatura acerca dos impactos clínicos resultantes da associação da infecção por SARS-CoV-2 em pacientes portadores de anemia falciforme por meio, assim como revisar conceitos sobre a fisiopatologia de ambas as doenças, reunindo informações de pacientes ao longo da pandemia de COVID-19. Para a coleta de dados foi feito uma revisão de literatura utilizando como base livros e artigos científicos, publicados entre os anos de 2019 e 2023 encontradas nas plataformas on-line PubMed, ScienceDirect e SCIELO. De acordo com a análise dos artigos foi possível observar que a COVID-19 gera um processo chamado de “tempestade de citocinas” além de complicações pulmonares e vasculares que trazem a possibilidade de sobreposição das manifestações clínicas com a AF. Ademais, alguns estudos mostram que o uso da hidroxiureia pode agir como atenuante nas crises de dor de pacientes falciformes infectados com o SARS-CoV-2. Contudo, com as informações obtidas, percebe-se que são necessários estudos mais aprofundados, com maior controle de variáveis para esclarecer as implicações na convergência dos processos fisiopatológicos de ambas as doenças. Entretanto, a infecção viral por SARS-CoV-2 pode levar a complicações características da hemoglobinopatia se tornando, dessa forma, um gatilho aos portadores.