Estresse e ansiedade de performance musical em estudantes de cursos profissionalizantes de música

Abstract

A Ansiedade de Performance Musical (APM) é identificada como uma forma específica de ansiedade social, marcada por um intenso medo de fracasso e desaprovação, juntamente com padrões de pensamentos irracionais e autodestrutivos no contexto de performance musical. Essa condição se manifesta através da combinação de sintomas afetivos, cognitivos, somáticos e comportamentais, surgindo frequentemente de vulnerabilidades biológicas ou psicológicas subjacentes e experiências específicas de condicionamento da ansiedade. Existe uma conexão entre APM e sintomas de estresse, depressão e ansiedade, evidenciando a complexidade e a inter-relação dos desafios enfrentados pelos profissionais da música. O presente estudo analisou possíveis associações entre a APM e níveis de estresse, depressão, ansiedade (traço/estado). Trata-se de um estudo observacional transversal. Os dados foram coletados no Conservatório Pernambucano de Música, na cidade do Recife, em 2021, com os alunos do curso de nível preparatório e técnico. A amostra estudada foi censitária e consistiu em estudantes de ambos os sexos, com idades entre 18 e 45 anos (n=83). Foram utilizados questionários autoaplicáveis, incluindo a Escala de Percepção de Estresse (PSS-10), a Escala de Hamilton para Depressão (QAEH-D), o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e Performance Anxiety Inventory (K-MPAI), no formato on-line, seguindo as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS) no 466 de 2012. O banco de dados foi construído no Excel, por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21.0, com o objetivo de avaliar o comportamento das variáveis em estudo. A análise dos dados foi realizada por meio de técnicas de estatística descritiva e inferencial. Resultados: Os estudantes do nível técnico apresentaram uma associação mais evidente com baixos níveis de APM em comparação aos do nível preparatório. Além disso, encontrou-se uma relação entre APM e nível de estresse (p < 0,001), indicando que, quanto maior a APM, maior o nível de estresse relatado pelos participantes. Observou-se também uma associação entre a classificação da depressão e a APM (p < 0,001), sugerindo que indivíduos com níveis mais elevados de depressão também apresentaram níveis mais elevados de APM. Foi identificada uma associação entre ansiedade estado e APM (p < 0,001), sugerindo que participantes com níveis mais elevados de ansiedade estado relataram maior APM. Foi encontrada uma associação entre ansiedade-traço e APM (p < 0,001), indicando que participantes com níveis mais elevados de ansiedade-traço também relataram maior APM. Não foram encontradas diferenças estatísticas significativas em relação à presença de APM com base no sexo, idade e classe econômica. Conclusão: Embora frequentemente associada a fatores individuais, a APM é influenciada pelas exigências educacionais, pelo ambiente competitivo e pelas expectativas enfrentadas pelos músicos em formação. A valorização da APM como um aspecto relevante da formação musical pode influenciar diretamente sua identificação e manejo. A ausência de maior visibilidade sobre essa questão pode contribuir para a subnotificação dos casos, o que, por sua vez, dificulta a implementação de estratégias eficazes para sua mitigação. A adoção de abordagens preventivas e intervenções específicas pode favorecer o bem-estar emocional dos estudantes, promovendo uma formação musical mais equilibrada e saudável.