A mulher negra na poesia brasileira: discutindo os corpos femininos em poemas de Conceição Evaristo

Abstract

O presente trabalho se apresenta enquanto uma pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo, que busca analisar, à luz de uma teoria decolonial, como as corporeidades da mulher negra são retratadas em poemas da escritora brasileira Conceição Evaristo. Desse modo, observa-se a forma como se constroem os corpos negros femininos em três poemas da referida autora, atentando para o seu caráter de ruptura à tradição literária brasileira. Assim, considerando os estereótipos historicamente tecidos em torno dos referidos corpos, destacam-se a figura da mãe-preta (Freyre, 2006; González, 2020) e o “mito da mulata” (Gonzalez, 2020), que reduzem a mulher negra à condição de objeto. Desse modo, ressalta-se a importância da literatura na restituição da humanidade dos indivíduos subalternizados, na medida em que esta é capaz de promover sua autoinscrição, além da sensibilização destes e de outros indivíduos sobre o tema. Logo, levando em conta essa importância, e com o objetivo de analisar as corporeidades do sujeito-mulher-negra na poesia, julgamos pertinente recortar nossos corpora de análise numa literatura de autoria negra e feminina, pautada nas escrevivências. Em vista disso, selecionamos os poemas “Fêmea-Fênix”, “Eu-Mulher” e “Do fogo que em mim arde”, de Conceição Evaristo, os quais são identificados como decoloniais e apresentam a corporalidade da mulher negra com base em diferentes aspectos. Através de tais análises, identificaram-se rupturas com a tradição literária, promovidas pelo destaque dado a aspectos das culturas afro-brasileiras e ao corpo-voz de mulheres que foram historicamente objetificadas e silenciadas. Cabe salientar que, para tratar dos conceitos de colonialidade e decolonialidade, utilizamos Quijano (2005) e Mignolo (2019). Já com relação aos estereótipos construídos em torno dos corpos negros femininos, valemo-nos das ideias de Freyre (2006) e González (2020). Ainda, consultamos o trabalho de alguns estudiosos, dentre os quais destacamos Cixous (2022) e diversas obras teóricas da própria Conceição Evaristo acerca de seu conceito de “Escrevivência”, para tratar do papel que a literatura desempenha no referente à representação dos corpos da mulher negra.