A PRESENÇA DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS NA FORMAÇÃO DE UMA POÉTICA DE MODERNIDADE NO TEATRO DE JOAQUIM CARDOZO

Abstract

Este artigo analisa as peças O Coronel de Macambira e De uma Noite de Festa, de Joaquim Cardozo, com o objetivo de investigar a presença de símbolos da religiosidade popular e sua articulação com a poética de modernidade elaborada pelo autor. Parte-se da hipótese de que Cardozo propõe uma visão crítica da modernidade excludente imposta ao Nordeste, por meio de uma dramaturgia simbólica, fragmentária e marcada por elementos do imaginário popular regional. O estudo adota uma abordagem qualitativa e interpretativa, de caráter estético-comparado, fundamentada nos aportes teóricos de Theodor Adorno, Tânia Carvalhal, Gilbert Durand, Peter Szondi e Câmara Cascudo. Observa-se que, nas duas peças, a modernização aparece como um projeto falido e violento, sustentado por instituições políticas, científicas e religiosas que traem seus próprios princípios. Em contraponto, a religiosidade popular, de matriz católica e afro-brasileira, emerge como eixo estruturante de uma resistência simbólica, apontando para outra forma de progresso: mais humana, inclusiva e em diálogo com as tradições ancestrais. A análise evidencia que, ao utilizar o bumba-meu-boi como matriz poética, Cardozo insere o teatro nordestino em uma discussão crítica sobre identidade, desenvolvimento e justiça social.