O que saiu do papel? Uma análise do Plano Diretor Cicloviário do Recife

Abstract

O Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC/RMR), vigente de 2014 a 2024, estabeleceu metas para a expansão da malha cicloviária no Recife e em cidades vizinhas, abordando também integração modal, estacionamento, governança e educação para o trânsito. Lançado pelo Governo de Pernambuco, o plano definia diretrizes para nortear as ações cicloviárias na região. Com o fim de sua vigência, este estudo busca diagnosticar em que medida a malha cicloviária proposta para o Recife foi efetivamente implementada, avaliando sua extensão, distribuição espacial e tipologia. A metodologia combina revisão bibliográfica e documental, diretrizes técnicas nacionais e internacionais e análise geoespacial da malha existente, com dados oficiais do Recife e do PDC/RMR. Foram produzidas tabelas comparativas e cartografias georreferenciadas para avaliar a correspondência entre a malha prevista e a existente, em traçado e tipologia. A análise se organiza em três dimensões: (i) comparação quilométrica entre o previsto e o executado, (ii) sobreposição dos traçados das malhas, e (iii) análise da coerência tipológica da malha cicloviária implementada. Também é analisada a sinistralidade com ciclistas em relação à hierarquia viária e aos limites de velocidade do município. Os resultados indicam uma baixa taxa de congruência entre o previsto e o executado: apenas 9,5% da malha cicloviária existente está em conformidade com o plano, enquanto 90,5% encontra-se fora do traçado proposto ou apresenta discrepâncias quanto à tipologia. Embora o PDC/RMR tenha representado um marco para o planejamento da mobilidade por bicicleta no Recife, sua implementação se deu de forma parcial, com lacunas de conectividade, predomínio de estruturas com baixo grau de segregação e ausência de infraestrutura cicloviária em vias de maior circulação e risco. A malha cicloviária existente se mostra distribuída de forma incoerente frente à hierarquia viária e majoritariamente com tipologias de menor proteção do que o indicado, resultando em um padrão de sinistralidade concentrado nas vias arteriais com limites de velocidade elevados. Conclui-se que, apesar dos avanços, a execução desigual da malha proposta descumpre o estabelecido no PDC/RMR e limita a consolidação de uma política robusta de mobilidade por bicicleta no município, evidenciando descompassos entre planejamento e implementação de políticas públicas.