Tempo de tratamento dialítico e sua associação com o estado nutricional e o consumo alimentar de pacientes em hemodiálise

Abstract

O objetivo desse estudo foi avaliar o tempo de tratamento dialítico e sua associação com o estado nutricional e o consumo alimentar em pacientes em hemodiálise (HD). Foi realizado um estudo do tipo série de casos, com pacientes com doença renal crônica (DRC) em tratamento no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE). Para a avaliação do tempo de HD, pela ausência de valores de referência, os dados foram expressos em tercis. O estado nutricional foi avaliado pelo índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC), e relação cintura/estatura (RCE). Para quantificar o consumo alimentar utilizou-se o recordatório de 24 horas (REC24h) em dois momentos. O modelo conceitual também considerou variáveis socioeconômicas, demográficas, clínicas e bioquímicas. Ao todo, participaram 40 pacientes, com média de idade de 54,8 ± 13,9 anos. Avaliando a ocorrência de obesidade abdominal e excesso de peso segundo o tempo de HD, verifica-se que ter um tempo de HD >3o tercil explica em cerca de 6,8% (φ = 0,26; p = 0,036) a ocorrência de obesidade abdominal. Por outro lado, o tempo de HD não apresentou poder explicativo quanto a ocorrência de excesso de peso pelo IMC (φ = -0,05; p = 0,946). Quanto a análise do consumo, observou-se que os pacientes com maior tempo de HD, tiveram menor consumo calórico, proteico e lipídico (p<0,05). Quanto aos micronutrientes, magnésio, potássio e vitamina E também apresentaram redução à medida que o tempo de diálise avançou. A média de ingestão proteica g/Kg de peso analisada pelo equivalente proteico por grama de nitrogênio (PNA) em ambos os sexos se apresentou abaixo das recomendações nutricionais. Não houve concordância entre os métodos PNA e o REC24h, segundo o coeficiente de correlação intraclasse. A análise de regressão mostrou que o maior tempo de HD esteve inversamente associado com consumo calórico (kcal), g de carboidratos (CHO) e lipídios. O maior tempo de HD explicava em até 7% a variação do consumo calórico e de g lipídeos (R2 = 0.07), enquanto explicava a variação até 4% do consumo de carboidratos, 6% da variação do consumo de AG monoinsaturados e 8% do consumo de AG poli-insaturados. A cada aumento de um dia no tempo de HD foi associado a uma redução de 12 kcal (p = 0.011), 7g de CHO (p = 0.045), e 29g de lipídeos (p = 0.038). Na avaliação do risco de distúrbio mineral e ósseo (DMO) não foi evidenciada correlação entre o consumo de fósforo e os níveis séricos de fósforo, mesmo quando a análise foi realizada entre os grupos com e sem o uso de quelantes. Em síntese, verifica-se que o maior tempo de HD está associado a obesidade abdominal e a um menor consumo de calorias e macronutrientes. Ou seja, é essencial o monitoramento dietético e da condição nutricional desses pacientes.