O uso da argumentação na formação de professores de ciências : contribuições e potencialidades para uma educação antirracista

Abstract

No Ensino de Ciências, estratégias metodológicas para a implementação da Lei 10.639/03 vêm sendo desenvolvidas e aprimoradas gradualmente ao longo dos anos, sendo difundidas, cada vez mais, pesquisas voltadas para a Educação Antirracista. Não obstante, o que se observa no cotidiano das práticas educacionais são currículos e práxis docentes que não contemplam tais estratégias. Considera-se, portanto, que a formação de professores de Ciências deve ter espaço para discutir a educação antirracista, uma vez que essa formação permitirá ao docente o desenvolvimento de práticas que vão de encontro aos discursos de preconceito e intolerância ainda difundidos socialmente. Acredita-se que, pelo fato das Ciências da Natureza se constituírem em importante referencial para a interpretação de fenômenos e problemas sociais, os professores de ciências devem ser capazes de inserir, em seu exercício docente, práticas metodológicas que permitam tais interpretações. Nessa perspectiva, considera-se que estratégias metodológicas que incitem a argumentação dos estudantes se mostram eficazes na promoção e manutenção de discussões das relações étnico-raciais nas salas de aula de ciências e, por esse motivo, devem ser viabilizadas através da formação dos professores. Este trabalho propõe-se, portanto, a investigar quais contribuições o uso da argumentação em sala de aula pode proporcionar para a formação de professores de ciências em relação à promoção de uma educação antirracista. A pesquisa foi realizada através da implementação de um curso de formação de professores para estudantes dos cursos de Licenciatura em Química e Licenciatura em Física da Universidade Federal de Pernambuco. Os resultados mostraram que a formação de professores contribuiu substancialmente no desenvolvimento de habilidades relacionados à promoção de um ensino antirracista por meio da argumentação, tendo em vista que a integração da abordagem argumentativa à abordagem antirracista proporcionou, aos professores, que o conteúdo científico fosse conectado às discussões relacionadas à ERER de forma mais produtiva, possibilitando discussões mais aprofundadas, bem como fornecendo uma unidade de análise que contempla tanto o conhecimento científico ́, quanto a ERER, o que uma abordagem tradicional não mostrou contemplar. Os resultados também apontam para a necessidade de se pensar uma formação de professores que dê ênfase no desenvolvimento de habilidades relacionadas à mediação do processo argumentativo.