Redes sociais e a teoria da relevância : cognição e hipertextualidade na dinâmica das redes

Abstract

Este trabalho tem como objetivo central analisar os padrões enunciativos no contexto da hipertextualidade a partir de três vídeos curtos publicados em algumas das principais plataformas de redes sociais contemporâneas, a saber TikTok, YouTube e Instagram. Nesse sentido, foram selecionados três vídeos curtos de três perfis distintos: (1) @rita_von_hunty, no TikTok, (2) @jonathanbynoe, no YouTube e (3) @peixoto.recife, no Instagram. Para a condução da pesquisa, fizemos uso de uma abordagem investigativa dedutiva com base nas estratégias ostensivo-inferenciais subjacentes ao processo comunicativo do que compreendemos como hipertextualidade (Xavier, 2009). No que se refere aos nossos pressupostos teóricos, tomamos tais estratégias como parte dos dispositivos cognitivos dos usuários de redes sociais em contextos de uso. Consideramos, assim, os aspectos enunciativos como parte essencial dos elementos técnicos disponíveis na hipertextualidade das plataformas de redes sociais para o processo de inferenciação; ou seja, nos encarregamos de assumir um posicionamento pragmático como orientador para a interpretação dos dados hipertextuais e linguísticos (Levinson, 2010; Sperber e Wilson, 1995[1986]; Marcuschi, 2008). Para tanto, fizemos uso do arcabouço teórico da Pragmática Cognitiva que tem na Teoria da Relevância sua maior contribuição para os estudos da modularidade da mente. De acordo com Sperber e Wilson (1995[1986]), qualquer estímulo informacional provoca o acionamento de dispositivos representacionais que contribuem com processamento inferencial. Nesse sentido, a compreensão alcança seus objetivos quando as intenções são mutuamente manifestas para ambos o comunicador e sua audiência. O reconhecimento da presunção de relevância é a base para o Princípio Cognitivo de Relevância, o qual explica as etapas do cômputo inferencial quando um indivíduo interage com textos (Clark, 2013; Silveira e Feltes, 2002; Sperber e Wilson, 2020). Nosso pressuposto central é que essas funções perceptuais são subjacentes à produção e difusão de informação na hipertextualidade. Enquanto fenômeno comunicativo, a hipertextualidade é definida nesta tese como o processo de produção textual a partir da mesclagem intencional e propositiva de módulos linguísticos que se constituem enunciativamente e se valem do processamento ostensivo-inferencial para o direcionamento ótimo da compreensão dos usuários ao interagirem com hipertextos. Os resultados obtidos ajudam a sustentar que as características enunciativas particulares à hipertextualidade apontam para o fenômeno da inferenciação como um processo operacional em sistemas de hiper-ostensividade, pois a hipertextualidade nas redes sociais é diversa, construída em níveis de ostensividade que variam de acordo com as propostas enunciativas do ato comunicativo em questão. Assim, nossa pesquisa em hipertextualidade compreende que lidamos com sistemas de interpretação complexos, dependentes de estímulos múltiplos em construções enunciativas significativas e particulares.