A educação financeira escolar proposta no Ensino Médio : um olhar para documentos curriculares, livros didáticos e professores, em uma perspectiva transversal às áreas do conhecimento

Abstract

Esta pesquisa busca discutir o ensino da Educação Financeira (EF) a partir de uma perspectiva transversal às áreas do conhecimento no Ensino Médio. Assumimos o caráter crítico que a temática deve receber ao ser abordada no ambiente escolar, por meio de relações para além do domínio de técnicas e conceitos da Matemática Financeira, o que entendemos por Educação Financeira Escolar. Pautamo-nos teoricamente nas discussões de Sacristán acerca do currículo e as influências que esse recebe desde a sua concepção até a prática em sala de aula. O objetivo geral foi analisar o ensino da Educação Financeira Escolar no Ensino Médio, de forma transversal às áreas do conhecimento, a partir de documentos curriculares oficiais (currículo prescrito), livros didáticos (currículo apresentado) e planejamentos elaborados por professores (currículo moldado). Especificamente, objetivamos: 1) Identificar prescrições para o trabalho com a Educação Financeira Escolar relacionada às áreas do conhecimento no Ensino Médio em documentos curriculares oficiais. 2) Analisar se e como a Educação Financeira Escolar está presente em livros didáticos das áreas do conhecimento aprovados pré e pós BNCC para o Ensino Médio. 3) Investigar como professores das áreas do conhecimento no Ensino Médio propõem a abordagem da temática. Como procedimentos metodológicos, a pesquisa está estruturada em três estudos. No primeiro, analisamos documentos curriculares nacionais e do estado de Pernambuco para identificar possibilidades de relações explícitas ou implícitas com a EF nas expectativas de aprendizagem, competências e habilidades para cada área. O segundo estudo corresponde ao mapeamento de atividades e situações de EF em coleções de livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) nos anos de 2018 e 2021, edições pré e pós publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No terceiro estudo, realizamos entrevista semiestruturada com oito professores do Ensino Médio, dois de cada área do conhecimento, além de solicitar a construção de um plano de aula em que a EF seja abordada de maneira relacionada a conteúdos e/ou conhecimentos das respectivas áreas. Destacamos que, nos documentos curriculares (currículos prescritos) as relações com a EF acontecem de maneira implícita, o que exige do professor um olhar atento às possibilidades de relacionar a temática com sua área de atuação. No que diz respeito aos livros didáticos (currículo apresentado), evidenciamos o avanço qualitativo nas atividades da área de Matemática quando comparamos os materiais aprovados no período pré e pós BNCC. No entanto, os conhecimentos docentes em relação à temática ainda demonstram estar voltados para uma perspectiva utilitarista e mercadológica da EF enquanto ferramenta para administração das finanças pessoais. Quando acontece menção a uma postura mais crítica e reflexiva não parece ser intencional. Salientamos a necessidade de alinhamento entre o proposto nos documentos e livros didáticos e a prática em sala de aula por meio do desenvolvimento de políticas públicas de formação de professores das diferentes áreas para que a temática seja tratada realmente de maneira transversal na formação dos estudantes, visando a contribuir com a construção de uma consciência crítico-social também por meio da Educação Financeira Escolar.