Dez chamamentos ao amigo e a lírica contemporânea : uma reflexão didática

Abstract

A presente pesquisa busca investigar de que maneira Hilda Hilst, na seção "Dez chamamentos ao amigo", transgride à tradição lírica trovadoresca que retoma e, assim, insere questões que lhe são contemporâneas. Para tanto, investigamos em que medida o erotismo, enquanto recurso simbólico e estético, ajuda a construir uma imagem da subjetividade lírica pós-moderna. Ademais, com base nas discussões suscitadas, pontuamos algumas sugestões didáticas, diluídas no corpo das análises, que objetivam apontar caminhos para o trabalho com textos como o de Hilst: eróticos, contemporâneos e de autoria feminina. Com relação a tais reflexões pedagógicas, tomamos como base Hooks (2013), Oliveira (2008), Pinheiro (2018) e Pinheiro (2007). Quanto ao erotismo, nos baseamos em Bataille (1987), Paz (1994) e Lorde (2019), em suma. A fim de embasar nossas reflexões sobre a tradição lírica medieval, revisitamos Moisés (2013) e Saraiva e Lopes (1973). Em relação à poética hilstiana, tomamos como aporte a coletânea organizada por Cintra e Freitas e Souza (2009), da qual recorremos a alguns textos que estabeleciam diálogos de obras de Hilda Hilst com o erótico e com a poesia lírica trovadoresca, além de retomarmos as reflexões de Coelho (1991), Coelho (2004), Oliveira (2019) e Soares (2000) para ampliarmos as discussões levantadas a partir das análises dos poemas. Outrossim, quanto à pós-modernidade, nos aportamos em Collot (2004), Agamben (2009) e Hall (2006). Na seção em foco, observa-se que o erótico atua como um recurso que impulsiona a busca pelo autoconhecimento da voz lírica, que, a cada chamamento, procura, em uma alteridade, indícios daquilo que constitui sua subjetividade. Para isso, evoca a tensão entre corpos, tecendo-os textualmente a partir de recursos literários que, enquanto artifícios estéticos, oportunizam situações de leitura em que o sujeito-leitor também esteja em corpo com o poético.