O jornalismo independente e a pandemia em Pernambuco : narrativas de interesse público na cobertura do portal Marco Zero Conteúdo

Abstract

A pandemia do novo coronavírus se tornou o principal tema do jornalismo no mundo, no biênio 2020/2021. Nesta pesquisa, analisamos o enfoque narrativo adotado pelo jornalismo independente em Pernambuco ao noticiar o assunto, mais especificamente o do portal Marco Zero Conteúdo, principal veículo independente do Estado, buscando desvendar seus enquadramentos, que priorizam pautas de interesse das periferias, grupos socialmente excluídos, movimentos sociais e comunitários. Com base na análise pragmática da narrativa jornalística, proposta por Luiz Gonzaga Motta, procuramos identificar uma relação intersubjetiva entre narradores e audiência, verificando intencionalidades e estratégias utilizadas para obter a validação dos receptores. Embora utilize recursos retóricos semelhantes aos da grande mídia, o Marco Zero tem base no paradigma construtivista, desvinculando-se dos escudos da objetividade e imparcialidade adotados pelo jornalismo tradicional para eximir-se de envolvimento com os fatos noticiados. Nosso recorte temporal engloba os primeiros seis meses da pandemia, entre março e setembro de 2020, período mais crítico da “primeira onda”, com maiores impactos por conta do ineditismo da doença, gerando notícias por vezes desencontradas e sem base científica, além de muita desinformação. Dentro das regras propostas por Motta, analisamos várias reportagens que denotam preocupação em contribuir para a compreensão de uma inesperada crise sanitária e as medidas adotadas – ou negligenciadas – por gestores públicos, cientistas e órgãos de prevenção e combate à Covid- 19, utilizando informações de setores oficiais e também alternativos, no campo de ciência, nas comunidades e nos bastidores políticos. A pesquisa adota marcos teóricos propostos por autores que trabalham narrativa jornalística, novos meios tecnológicos de comunicação, construção social da realidade, democracia e esfera pública. Entre eles, Motta (2006; 2013; 2017), Castells (2000; 2008; 2013), Schudson (1988; 2010), Traquina (2016) e Habermas (1997; 2002; 2010), nos quais encontramos respaldo importante para verificar se o webjornalismo praticado pelo Marco Zero enquanto mídia independente tem, de fato, potencial para contribuir com a democratização da informação e a inclusão social em Pernambuco.