“Nada sobre a gente sem a gente” : narrativas de pessoas trans* sobre suas experiências na formação em Psicologia

Abstract

Esta pesquisa teve o objetivo de analisar narrativas de pessoas trans* sobre suas experiências no curso de formação em psicologia. Inicialmente, para aproximação ao campo-tema e para fundamentar as discussões traçadas na pesquisa, realizamos revisão sistemática da literatura em bases de dados on-line de periódicos e de teses/dissertações. Essa busca resultou em nove textos, que foram organizados em dois eixos temáticos: 1) experiências trans* em instituições de ensino; e 2) debate de gênero e sexualidade na formação em psicologia. Nossa base teórico-metodológica foi orientada por uma leitura psicossocial qualitativa e, como orientação epistemológica, ética e política, adotamos o transfeminismo na interface com o construcionismo social. Compreendemos experiência como uma prática discursiva que se constitui e é constituída por (e sobre) sujeitos. Isso implica levar em consideração sua historicidade, numa dimensão performática, e seu caráter coletivo. Como caminho metodológico, escolhemos as entrevistas narrativas. Como critérios de inclusão, definimos: 1) ser uma pessoa que se autodeclara enquanto pessoa trans*; 2) estar matriculada/o no curso de graduação em psicologia ou estar finalizando o curso há no máximo um ano; 3) assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após a delimitação desses critérios, encontramos sete interlocutoras/es que participaram da pesquisa, com as/os quais dialogamos, e, a partir dos encontros, coproduzimos narrativas sobre a experiência de ser/estar estudante de psicologia. Buscamos fazer uma costura entre as narrativas coproduzidas e os deslocamentos gerados a partir delas na interface com a literatura. Para tanto, organizamos nossa discussão em três eixos de análise: 1) produção de sentidos sobre psicologia: um campo de tensão e possibilidades; 2) repertórios sobre identidade de gênero: a urgência da cisgeneridade como categoria de análise; e 3) produções discursivas negociadas e estratégias de permanência: fronteiras e produção de vida. Por fim, apresentamos algumas inconclusões com o intuito de indicar limites e potencialidades deste estudo, como também arrolar questões que podem servir de alimento para outras pesquisas.