Educação Literária no Ensino Médio : uma análise comparativa e etnográfica de práticas de leitura em escolas públicas de Pernambuco

Abstract

Este estudo apresenta resultados de pesquisa de doutorado realizada em duas turmas do 3º ano do Ensino Médio de duas escolas públicas de Pernambuco. Nosso objetivo é apresentar reflexões, análises e problematizações sobre as práticas de leitura literária inseridas em contexto escolar, considerando os aspectos institucionais, políticos ideológicos que permeiam a relação com a literatura. Nosso trabalho está fundamentado nos seguintes princípios epistemológicos: a leitura literária constitui-se como uma prática social de letramento, de acordo com a conceituação desenvolvida pelos Novos Estudos do Letramento, representados pelo Brian Street (2010); o texto literário precisa ser pensado como produção estético-cultural de valores relativos, determinados por relações de poder e padrões sociais hegemônicos (ZILBERMAN, 2018, ABREU, 2006); o acesso à leitura literária é elemento essencial para a formação humana, devendo ser estabelecido como um direito (CANDIDO, 2012); a ação educativa, para se instituir como prática emancipatória, deve basear-se no respeito ao conhecimento do estudante, à sua experiência e cultura, possibilitando que estes sejam coautores de seus processos formativos (FREIRE, 2006). A metodologia empreendida considera as concepções e procedimentos da pesquisa etnográfica (ROCKWELL,1986; GREEN, 2005) e do Estudo de Caso Comparado (BARTLETT & VAVRUS, 2017); por isso, além dos dados produzidos em sala de aula, efetivamos contrastes com outras categorias significativas para o entendimento do nosso objeto, como: documentos oficiais normativos e avaliativos; além dos perfis socioculturais dos sujeitos envolvidos e suas reflexões sobre as práticas que exercem. Nosso processo de pesquisa demonstra como as apropriações do termo letramento literário pelas instâncias educativas analisadas simulam a permanência de práticas de leitura literária excludentes, que podem ser identificadas no conflito caracterizador das ações e dos discursos docentes; como também na suposta “autonomia” que define suas escolhas. Por isso, pretendemos ampliar as discussões em torno de um conceito de educação literária coerente com a complexidade e a diversidade das práticas de leitura; que contribua para o campo dos estudos interessados na crescente democratização do acesso à literatura.