A docência em física no agreste pernambucano: discursos de estudantes de um curso de Licenciatura.

Abstract

A discussão sobre a docência é tema atual de pesquisas em diversas áreas das ciências humanas e sociais. Porém, quando trazemos esse debate para o campo das ciências exatas, em especial da Física, poucos registros são encontrados na literatura. Os estudos neste campo apontam para o baixo interesse pela carreira docente na educação básica e a evasão nos cursos de licenciatura. Estes fatos ressaltam a necessidade de pesquisas que aprofundem o conhecimento sobre esta questão. Este trabalho teve como objetivo conhecer os discursos sobre a docência produzidos por estudantes de um Curso de Licenciatura em Física no Agreste Pernambucano. Dois objetivos específicos permearam o estudo: 1) verificar o nível de valorização da docência entre estes atores sociais; 2) analisar as inter-relações entre gênero e a docência em física. Consiste numa pesquisa de cunho qualitativo. O corpus foi constituído por transcrições de entrevistas do tipo semiestruturada, com 10 estudantes do Programa de Iniciação a Docência – PIBID, do Curso de Física do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE. A análise de dados desenvolvida teve caráter exploratório e descritivo. Segundo Gil (1999) a pesquisa exploratória é desenvolvida com o objetivo de proporcionar uma visão geral e aproximativa do fenômeno estudado, consiste numa primeira etapa de estudo com vistas a uma investigação futura mais ampla. Durante a pesquisa desenvolvemos diálogos iniciais com a teoria do discurso de Laclau e Mouffe (2001). Como resultado da análise pode-se constatar que a maioria dos/as estudantes entrevistados/as nunca haviam pensando em seguir a carreira docente e só ingressaram na mesma devido às oportunidades que um curso superior nesta área poderiam oferecer. Os/as mesmos/as veem o curso de licenciatura em física como uma forma de entrar no mercado de trabalho, porém ao se aproximarem do ambiente escolar da educação básica, relatam ser algo desestimulante, devido aos baixos salários, às condições precárias do contexto educacional brasileiro, ao excesso de trabalho, à falta de valorização da docência pelas instâncias superiores e à falta de disciplina dos/as alunos/as. Com relação às inter-relações entre gênero e docência em física, pode-se perceber que apesar do crescente número de profissionais mulheres nesta área, a docência em física ainda é vista como um campo de atuação masculina, onde persistem preconceitos e práticas associadas às relações de dominação de gênero masculino que parecem dificultar o acesso e a inserção da mulher. Apesar do caráter exploratório e introdutório, este estudo sinaliza para caminhos investigativos que necessitam ser trilhados por pesquisas futuras. É preciso desenvolver análises sobre as políticas públicas que estão sendo pensadas/implantadas pelos órgãos superiores da educação para maior atratividade para a profissão docente; assim como discutir mais cuidadosamente se iniciativas como o PIBID são as melhores alternativas. Também é necessário verificar se em outras regiões do nordeste são encontradas as mesmas dificuldades do Agreste Pernambucano em relação à atuação docente na educação básica e o que pensam e como vêm trabalhando os/as professores/as formadores/as de outros/as professores/as. Será que os discursos produzidos por professores/as, da área das ciências da natureza e matemática, em especial, dos cursos de licenciatura em física e os discursos dos professores/as das disciplinas pedagógicas e das disciplinas das práticas de ensino são os mesmos em relação à atuação feminina no campo das ciências exatas? Como estão sendo pensados os currículos para formação dos professores de Física? É essencial a continuação e ampliação de estudos nesta área, envolvendo um número maior de participantes e outras licenciaturas em Física ofertadas no Nordeste.