Estudos de gêneros na Educação Matemática : as expectativas construídas pelos/as docentes

Abstract

Esta pesquisa é fundamentada em uma abordagem teórica pós-estruturalista e metodológica qualitativa. Nela, buscou-se compreender como as representações do feminino e do masculino podem produzir expectativas distintas para os sexos e interferir no processo de ensino e aprendizagem da matemática. Para isso, foi analisado como as relações de gênero e as visões estereotipadas de professoras e professores se manifestam nas aulas de matemática, em instituições públicas do Ensino Fundamental, da cidade de Gravatá – PE. Procurou-se compreender como se produzem e se manifestam as divisões de atividades atribuídas às meninas e aos meninos, nas práticas de ensino e aprendizagem da matemática, assim como as expectativas docentes dirigidas aos estudantes quanto à matemática e/ou afins. A pesquisa foi realizada com dez professoras efetivas que atuam há mais de três anos no Ensino Fundamental – anos iniciais. Assim, utilizou-se como instrumentos de coleta entrevistas semi-estruturadas e análise de documentos. Foram feitas análises qualitativas de conteúdo dos dados numa perspectiva feminista. Para isso, usou-se de técnicas que permitem maior aproximação de estereótipos nas falas ou significados das falas das professoras. Tal perspectiva compreende que os métodos convencionais de produção científica estão construídos em bases culturais androcêntricas e heteronormativas, tornando-se, assim, limitantes para a análise destes dados. Os resultados apontam silenciamentos, equívocos e visões estereotipadas sobre as relações de gênero, desencadeando processos visíveis de naturalização sobre as demarcações do masculino e do feminino. Tais percepções remetem a processos de ensino-aprendizagem discordantes quanto a questões de gênero, além de reforçarem expectativas, comportamentos e habilidades diferentes e desiguais para meninos e meninas quanto à matemática. A forte presença de estereótipos entre as docentes desta pesquisa demonstra a dependência cultural daquelas quanto às relações de poder que operam sobre a identidade de gênero, sendo estas reprodutoras desses estereótipos. Outra conclusão observada é a não percepção das docentes quanto à influência das práticas pedagógicas sob as relações de gênero voltadas à matemática, as quais impedem o rompimento de discriminações e desigualdades de tratamento entre gêneros.