Expansão da universidade pública: um estudo sobre o campus Garanhuns da Universidade de Pernambuco

Abstract

A dinâmica do capitalismo globalizado induz a padronização das ações e gestão das instituições para melhor eficiência e eficácia. Mas, a depender do território, tal padronização pode não se replicar em escala local, devido as especificidades das localidades que promovem distorções (positivas ou negativas) na implementação das ações públicas. Na escala operativa das políticas públicas, destaca-se o papel das instituições e dos atores locais/regionais para se aproximar do território trabalhando as fragilidades e potencialidade, e contribuindo para o desenvolvimento local-regional. Tal cenário é verificado nas políticas de educação superior no Brasil, que imprimem certa padronização das estratégias de organização, funcionamento e expansão das universidades públicas, tendo como premissas melhorar seu desempenho e eficiência, promover articulações entre os diversos setores da sociedade, a partir das atividades de pesquisa, ensino e extensão, contribuir para o desenvolvimento local-regional. No entanto, quando implementadas as políticas de educação superior se territorializam, e a padronização inicial das ações (como por exemplo a escolha e perfil dos cursos, o perfil docente) pode se traduzir em dificuldades no diálogo entre a universidade e o território, com suas temporalidades, especificidades e territorialidades. No estabelecimento de tal dialogo, os atores locais assumem importância na liderança e tomada de decisão, mobilizando agentes institucionais governamentais e não governamentais. No entanto, a capacidade da universidade de induzir ou acelerar o desenvolvimento local-regional não ocorre de forma simples e linear, apesar do caráter regional das atividades desenvolvidas pela universidade. Além do histórico distanciamento entre o desenho das políticas públicas e as especificidades regionais, esse novo cenário ainda possui problemas como, por exemplo, o nível de amadurecimento das universidades, a interferência política de atores locais. Nessa perspectiva, buscou-se compreender o processo de expansão da universidade pública, tendo como foco seu engajamento territorial para o desenvolvimento local-regional, a partir do estudo de caso do Campus Garanhuns da Universidade de Pernambuco (UPE). Para tanto foram estudadas as ações realizadas no campus para a ampliação da oferta de vagas, de infraestrutura e do quadro de pessoal, diversificação de cursos ofertados, produção e difusão de conhecimento. Verificou-se que o Campus Garanhuns da UPE contribui de forma limitada para o desenvolvimento local-regional e circunscrita ao seu entorno. A cidade de Garanhuns tem forte centralidade econômica e populacional dentro da Região de Desenvolvimento (RD) Agreste Meridional, mas essa dinâmica não dialoga com o campus. As estratégias para expansão do campus alcançaram metas estabelecidas pelas políticas estaduais e federais, mas não há engajamento consciente e planejado com a RD. Na escala operativa da política de expansão, as estratégias foram estabelecidas a partir do poder de ação e decisão de atores específicos, repercutindo na manutenção de assimetrias no funcionamento do campus, que possui uma histórica fragilidade para desenvolver atividades de extensão e pesquisa, e na sua contribuição para o desenvolvimento local-regional. De modo geral, a universidade contínua sofrendo influência de relações políticas e interesses específicos dos atores políticos e sociais, que as controlam, e que precede a instalação e o desenvolvimento da instituição e seus desdobramentos no território.