Protocolos de gênero : tecnologias, categorias e corpo na relação entre medicina e transgeneridade

Abstract

O processo transexualizador é um conjunto de ações e serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil que garante o acesso de pessoas transgênero aos cuidados com a saúde. Esta política organiza as práticas dos profissionais, o uso de suas técnicas e o percurso dos/as usuários/as no sistema de saúde. Esta pesquisa sociológica teve como objetivo analisar as tecnologias de gênero articuladas nas práticas de usuários/as, profissionais, artefatos e protocolos no processo transexualizador do Espaço Trans do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/EBSERH) em Recife, Pernambuco. Através da análise sociológica das principais normativas e da utilização de uma metodologia qualitativa, foi realizada uma etnografia com diário de campo, observação participante e entrevistas semiestruturadas com 9 profissionais e 7 usuários/as envolvidos/as na rotina do Espaço Trans. O estudo observou o processo dinâmico no qual as práticas são orientadas pelas normativas e, ao mesmo tempo, as modificam. Compreendeu-se que as relações são mediadas por múltiplos atores simultaneamente e que normas implícitas de gênero se mesclam com a autoridade institucional. Concluiu-se que os protocolos têm um papel na organização da vida, mas as releituras dos atores humanos na interação entre humanos e não-humanos abrem espaço para inovação e quebra de expectativas.