REPRESENTAÇÕES DA GUERRA DO BIAFRA NO DIÁRIO DE PERNAMBUCO: considerações sobre o símbolo da fome (1970- 1989).

Abstract

A Nigéria, país com o maior contingente populacional africano, tornou-se independente em 1960, e sobre ele depositou-se grande esperança em seu futuro pós-colonial por conta das jazidas de petróleo encontradas no país pouco antes de sua independência. Marca de muitos países africanos, a Nigéria foi também atravessada por disputas políticas entre grupos étnicos, alimentadas por conflitos de interesses europeus, que contribuem na instabilidade dos Estados africanos. A instabilidade ocasionou a guerra do Biafra, conflito que foi televisionado e exposto nos principais jornais do mundo. Desta maneira, objetivamos analisar como o conflito é representado no jornal Diário de Pernambuco no período de 1970 a 1989, tendo em perspectiva o contexto de tensionamentos raciais em que as narrativas do jornal são produzidas. Este trabalho se constrói em diálogo com os conceitos de representação, estereótipo e alteridade, ferramentas analíticas da perspectiva teórica dos Estudos Culturais, partindo sobretudo das contribuições de Stuart Hall (2016). Como resultado, observamos que Biafra é construída narrativamente enquanto símbolo de fome, e suas representações são comumente colocadas em paralelo com a fome no nordeste brasileiro, uma vez que dentro de uma perspectiva racializada, as problemáticas econômicas e sociais da África e do Nordeste são atribuídas à raça, e aproximadas pelas heranças africanas na região