A História do Recife colonial por meio dos parasitos : uma análise paleoparasitológica preliminar

Abstract

A Paleoparasitologia é um ramo da Paleopatologia que se interessa pelo estudo dos parasitas em material arqueológico, com objetivo de entender as múltiplas interações entre parasitos e humanos no passado. Durante a execução do Projeto de Requalificação Urbanística da Comunidade do Pilar, promovido pela Prefeitura do Recife, na área próxima à atual Igreja do Pilar, no Bairro do Recife, a equipe do NEPARQ/UFRPE escavou um extenso cemitério colonial, utilizado principalmente entre a 2ª metade do século XVI e o século XVII, incluindo o período de ocupação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC) em Pernambuco. Assim, o cemitério do Pilar e as pessoas enterradas neste local vêm sendo objeto de estudos diversos para que seja possível compreender as condições de vida e morte nesta população urbana dos primórdios da colonização europeia no atual território brasileiro. Realizou-se um estudo exploratório para investigar a ocorrência de vestígios de ovos de helmintos intestinais que acometeram dois indivíduos identificados em 2022 no cemitério arqueológico do Pilar, Recife-PE. A partir dos sedimentos de pelve para a pesquisa de ovos de helmintos, e sedimentos do crânio (internamente e externamente) e fíbula para controles negativos, realizou-se o Método de Hoffman, Pons e Janer (HPJ), associado à centrifugação. Coletaram-se 50g de sedimentos (pelve e forames sacrais) e duas amostras de controle negativo (crânio e fíbula) dos indivíduos 22-A e 22-B. O Método HPJ consistiu em homogeneizar 10g do sedimento em 20mL de água destilada, filtrar a suspensão em gazes dobradas em um cálice cônico de 300mL. A suspensão ficou em repouso por 24 horas. Em seguida, descartou-se o excesso e homogeneizou-se o sedimento com posterior centrifugação de 7 mL da amostra em 5.000 rpm por 10 minutos. Confeccionaram-se 50 lâminas por amostra/controle coradas com lugol e realizou-se leitura em aumento de 100x e 400x. Identificaram-se na amostra de pelve 22-B dois ovos de Ascaris spp envelhecidos, larvas de vida livre, ácaros e estruturas vegetais. Nas amostras de controle foram evidenciados larvas de vida livre e ácaros. A pesquisa não envolveu seres humanos vivos e o estudo dos sedimentos de indivíduos arqueológicos antigos foram autorizados pelo IPHAN e dispensam autorização do Comitê de Ética em Pesquisa. Portanto, os ovos de Ascaris spp na amostra de pelve do indivíduo 22-B caracterizamse como achados paleoparasitológicos e as demais larvas de vida livre, possível contaminação. Dessa forma, o indivíduo 22-B, em vida, possivelmente apresentava uma ascaridíase, no entanto não podemos afirmar que ele tenha falecido em decorrência disso. Para futuras pesquisas, análises moleculares para extração de DNA antigo dos sedimentos podem corroborar o resultado deste trabalho.