Evidências de hidrocarbonetos petrogênicos no sedimento da plataforma continental do nordeste brasileiro na época do derramamento de óleo de 2019

Abstract

O petróleo constitui a principal matriz energética mundial e a tendência é que ainda deva se manter no topo nas próximas décadas. As atividades de exploração, transporte e refino do petróleo bem como a produção de seus derivados resultam em uma enorme pressão ecológica, particularmente quando há acidentes de derramamento destes produtos no mar. Os hidrocarbonetos, principais constituintes do petróleo, são considerados contaminantes onipresentes nos compartimentos marinhos e, por este motivo, têm sido alvo frequente de estudos para avaliar a contaminação marinha por atividades antrópicas. Em 2019, um derramamento de óleo de origem desconhecida atingiu a costa brasileira, sendo considerado o maior acidente ambiental já registrado no Atlântico Sul. O presente estudo investigou evidências da presença de óleo em sedimentos superficiais na plataforma continental do Nordeste na ocasião deste evento, através das análises de hidrocarbonetos. As concentrações de hidrocarbonetos alifáticos (HAs) totais variaram entre 0,03 e 1,43 μg g-1 (mediana = 0,09 μg g 1 ). O perfil dos n-alcanos apresentou distribuição típica de contaminação por óleo em duas amostras costeiras (C4 e C5). Isso foi confirmado pelas razões diagnósticas IPC12-40 e pristano/fitano. Na plataforma externa, as concentrações de HAs foram baixas e associadas à origem natural (principalmente marinha) em quase todas as amostras. As exceções foram os sedimentos das estações P1, P5 e P14, que apresentaram sinais de contaminação petrogênica. Para as estações da plataforma interna de Pernambuco, as concentrações de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) totais variaram entre 2,00 e 1.996 ng g-1 (mediana = 7,89 ng g 1 ). Novamente, os sedimentos das amostras C4 e C5 exibiram evidências de contaminação por óleo. Essas duas amostras costeiras foram coletadas no Pontal do Cupe (litoral sul de Pernambuco), uma área diretamente afetada pela chegada de manchas de óleo em 2019. De uma maneira geral, as concentrações de HPAs foram baixas nos sedimentos da plataforma continental externa e semelhantes aos níveis de base da região. Entretanto, duas amostras (P1 e P5) apresentaram níveis de contaminação moderados. Os resultados das razões diagnósticas de HPAs nessas amostras sugeriram fontes petrogênicas, assim como ocorreu nas análises de HAs. Em conclusão, evidências robustas da presença de óleo foram encontradas em pelo menos duas amostras de sedimento coletadas em novembro de 2019 na plataforma externa da Região Nordeste, possivelmente relacionadas ao evento do derramamento de óleo ocorrido na mesma época, enquanto duas estações costeiras também apresentaram o mesmo indicativo.