Vulnerabilidade funcional das comunidades de corais brasileiras à invasão do Coral-Sol (Tubastraea spp.)

Abstract

Invasões biológicas são consideradas uma ameaça ao funcionamento dos ecossistemas, por modificarem a estrutura do habitat e alterarem processos ecológicos, causando impactos funcionais com consequências econômicas e sociais. No ambiente marinho, o coral Tubastraea spp. invadiu o Atlântico, onde vem causando impactos em espécies, comunidades e processos ecológicos de ecossistemas recifais brasileiros. No presente trabalho, foi avaliado como as comunidades de corais brasileiros podem ser vulneráveis aos efeitos da invasão de Tubastraea spp., em uma perspectiva funcional. O estudo foi realizado em recifes de cinco estados do nordeste brasileiro em 28 sítios de coleta, onde a diversidade taxonômica e funcional das comunidades coralíneas foi investigada. O número de espécies e cobertura dos corais foram amostrados por 1500 fotoquadrados com imagens de alta resolução. Os atributos funcionais das espécies de corais foram caracterizados por meio de revisão bibliográfica, e utilizados para o cálculo de valores de CWM (Community-Weighted Mean) para cada atributo. Os resultados mostraram diferenças na estrutura taxonômica e funcional entre os recifes estudados, especialmente quando comparados recifes com presença de Tubastraea spp.com aqueles sem a presença do invasor. As grandes coberturas (8.99±1.3%) que o coral Tubastraea spp. atingiu no sítio invadido (Recife dos Cascos, Baía de Todos os Santos), contribuiu para diferenciar os atributos funcionais nas comunidades. Os atributos de competição química e física, assim como a ausência de zooxantelas associadas ao invasor, foram as principais características funcionais que explicaram as diferenças entre os sítios. Entre os recifes ainda não invadidos, alguns destacam-se por uma maior vulnerabilidade a serem colonizados pelo coral-sol, enquanto em outros, caso ocorra a disseminação dessa espécie, pode resultar em grande perda para a diversidade coralínea. Abrolhos, por ser um ambiente com alta diversidade de espécies, podem ter uma resposta competitiva mais forte para espécies invasoras, mas também podem sofrer maior perda de diversidade, em especial de espécies raras e endêmicas. No Rio Grande do Norte, os recifes são dominados massivamente por Sidetastrea spp. e por isso correm grande riscos de impactos funcionais na presença do coral-sol, uma vez que esta espécie demonstra ter menos capacidade competitiva em contato com o invasor. Os recifes de Alagoas possuem coberturas significativas de uma espécie em perigo de extinção, Mussismilia harttii, que diante da presença do coral invasor, podem perder um importante refúgio para sua conservação. De acordo com os resultados do presente trabalho, é necessário reforçar a importância do monitoramento em áreas não invadidas para detecção precoce e rápidas ações para erradicação e controle das populações de coral-sol, a fim de evitar impactos funcionais e mitigar os efeitos nos processos ecológicos dos ambientes recifais brasileiros.