Estudo transversal para avaliação do impacto dos transtornos de ansiedade em pacientes com epilepsia

Abstract

Os transtornos de ansiedade são frequentemente encontrados em pacientes com epilepsia. O que parece ser produto de uma interação complexa entre drogas antiepilépticas (DAE), alterações neurobiológicas associadas às crises epilépticas, experiências subjetivas e vulnerabilidade social causada pelo impacto psicossocial da epilepsia. A qualidade de vida dos pacientes chega a ser mais influenciada pelas comorbidades psiquiátricas do que pela própria frequência de crises epilépticas, notadamente pelos transtornos ansiosos e depressivos. O objetivo desse trabalho foi analisar, em pacientes com epilepsia, o impacto dos transtornos ansiosos sobre qualidade de vida, percepção de efeitos adversos às DAE e adesão ao tratamento com estas; bem como possível relação com variáveis demográficas e com frequência de crises epilépticas. O estudo foi realizado no ambulatório de epilepsia do Hospital Universitário Osvaldo Cruz – Universidade de Pernambuco. Foram entrevistados 87 pacientes consecutivos, maiores de 18 anos, com diagnóstico de epilepsia há pelo menos 1 ano acompanhados no Hospital Universitário Osvaldo Cruz e Hospital das Clínicas, durante o período de Agosto de 2014 a Dezembro de 2015. Como instrumentos de avaliação, utilizamos questionários de ansiedade M.I.N.I. versão 5.0.0 (mini international neuropsychiatric interview), escala de ansiedade de Hamilton, inventário para depressão em transtornos neurológicos em epilepsia (IDTN-E), escala de qualidade de vida QOLIE-31 (quality of life in epilepsy), escala de perfl de efeitos adversos LAEP (Liverpool adverse effects profile), escala de adesão ao tratamento TMG (teste de Morisky Green). Transtornos de ansiedade foram encontrados em 31 (35,6%) dos pacientes, dos quais a maioria foram transtorno de pânico (13,9%) e transtorno de ansiedade generalizada (21,8%). Foram encontrados ainda 4 pacientes com transtorno de estresse pós-traumático, todos apresentando crises psicogênicas não epilépticas. Não houve associação entre transtornos de ansiedade e nenhuma das características sociodemográficas estudadas. Assim como não houve associação entre os transtornos de ansiedade e frequência de crises epilépticas. O grupo de pacientes com transtornos de ansiedade apresentou qualidade de vida mais comprometida (p <0,05), pior avaliação do estado geral de saúde (p <0,05) e maior percepção de efeitos adversos (p <0,02), sem diferença quanto à adesão ao tratamento com drogas antiepilépticas e frequência de crises epilépticas. A conclusão é que pacientes com epilepsia e transtornos de ansiedade apresentam um maior comprometimento da qualidade de vida e da percepção de efeitos adversos as DAEs.