Tecendo redes e produzindo laços: gramática social e repertórios morais em uma comunidade quilombola

Abstract

A partir da observação de aspectos da “micropolítica da vida cotidiana” (Bailey, 1971) na comunidade quilombola da Pitombeira, localizada no sertão paraibano, o presente texto analisa o modo pelo qual as configurações familiares e a articulação política do grupo se relacionam com os processos históricos e as lutas identitárias por eles compartilhados. Apoiando-me em uma abordagem processualista (Barth, 1969), tomei como referência para a minha reflexão, as situações ordinárias e extraordinárias ali presenciadas e vividas junto ao grupo, destacando diferentes momentos de chegada de pessoas de fora e seus processos de aproximação ou distanciamento, marcados por elementos de ordem temporal e pela demarcação de fronteiras estabelecidas, ora pelo pertencimento as famílias de raizes, ora pelo pertencimento ao grupo étnico. E que dão visibilidade a um contexto de profundas superposições, cuja compreensão torna possível melhor entender os processos que perpassam a rotina diária do grupo. O material empírico possibilitou destacar que, os pertencimentos familiares são importantes princípios de mapeamento e de organização social daquele grupo. Nesse sentido, a análise aqui apresentada atribuiu destaque às dinâmicas familiares evidenciando atores que, trilhando por arenas diversas (no mundo religioso, político, associativo ou mesmo familiar), representam para o grupo relevantes contribuições para sua constituição e manutenção. Para tanto, destacou-se o modo pelo qual as interações vão se constituindo e as dinâmicas da vida familiar vão pautando a organização e articulação social e política do grupo, permeados por um conjunto de repertórios morais, marcados pelas reputações e conflitos entre as famílias que ali residem. Contemplando diferentes níveis da vida social daquelas famílias, foi possível destacar a complexa e imbricada relação existente entre apropriação territorial, laços de parentesco e construção de padrões de pertencimentos que são marcados por afetividade, moralidade e agenciamento político; sinalizando assim, questões importantes para pensarmos os elementos envoltos nos desdobramentos dos processos de reconhecimento da identidade étnica dos moradores da Pitombeira.