Educando para a cidadania democrática: uma reflexão sobre competências argumentativas

Abstract

O trabalho foi produzido no âmbito dos estudos que abordam a relação entre Educação e Linguagem especificamente sobre o Ensino da Língua Materna e teve como objetivo: identificar indícios de competências argumentativas democráticas em crianças e suas possibilidades de ensinagem no trabalho com Língua Portuguesa considerando a formação do sujeito democrático. A proposta do trabalho surge a partir de duas premissas: o aparato democrático estabelecido em nossa sociedade não garantiu uma democracia forte; a escola não tem contribuído o suficiente, e pode contribuir, para a construção da cidadania democrática que em nossa percepção faz parte desse fortalecimento. Para discutir a questão sobre o papel da escola na formação do sujeito democrático foram realizadas várias atividades de campo sendo a mais significativa, a aplicação de sequências didáticas (DOLZ, 2004) em duas turmas do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal do Recife, envolvendo o gênero textual debate. As atividades das sequências foram organizadas tendo como objetivo a apropriação do gênero textual e o desenvolvimento das 03 (três) competências que estamos chamando de competências argumentativas democráticas: competência proposicional; competência decisória e competência auto-interrogativa (BRAYNER, 2008). Para qualificar a discussão também analisamos a proposta curricular da Rede Municipal de Ensino do Recife, do ponto de vista da formação para a democracia, e através de questionários e entrevistas identificamos a percepção de estudantes, professoras e gestora da escola em que aplicamos as sequências, sobre a participação das crianças em processos de decisão. Assumimos a concepção de Língua como interação proposta por Bakhtin (2009), e como elemento político de visibilidade (ARENDT, 2003). Sobre argumentação, que está na base da pesquisa, tentamos deslocar o conceito dos processos de convencimento e colocá-la como um mecanismo de diálogo. Os resultados mostram que existe uma demanda e um potencial para tal formação e que apesar da complexidade envolvida, é possível na organização do trabalho com gêneros textuais inserir discussões visando o desenvolvimento das competências democráticas, e aprendizagens que potencializam esse desenvolvimento.