A energia nuclear no Brasil e a conclusão de Angra 3: segurança, viabilidade econômica e aceitação social

Abstract

O presente trabalho reforça a importância estratégica da energia nuclear como um dos pilares da segurança energética nacional, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde a demanda por eletricidade cresce de forma contínua e enfrenta desafios como crises hídricas e a dependência de fontes intermitentes. Ao analisar o caso da Usina de Angra 3, observou-se que a energia nuclear pode representar não apenas uma alternativa complementar na matriz elétrica, mas também um vetor para o desenvolvimento econômico, tecnológico e ambiental do país. A análise econômica baseada em indicadores clássicos de investimentos — como o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR) — evidenciou que a retomada do projeto é não apenas viável, mas vantajosa do ponto de vista financeiro. A incorporação do LCOE como métrica adicional reforçou a robustez da proposta, ao demonstrar um perfil tarifário estável e competitivo frente às demais fontes convencionais. Além disso, a conclusão de Angra 3 contribuiria para a redução das emissões de carbono, para o fortalecimento do parque nuclear brasileiro e para o avanço tecnológico em áreas como o ciclo do combustível e a engenharia de reatores. Contudo, a viabilidade técnica e econômica, por si só, não assegura a continuidade e o sucesso de projetos nucleares. A aceitação pública emerge como um fator determinante para a consolidação dessa fonte energética no Brasil. Fatores como o medo associado a acidentes históricos, a ausência de campanhas educativas, a baixa transparência institucional e os escândalos de corrupção impactam diretamente a percepção social, alimentando desconfiança e resistência. Enfrentar esse cenário requer políticas consistentes de comunicação pública, engajamento comunitário e valorização do conhecimento científico como instrumento de empoderamento social. A comparação com experiências internacionais, como as da Finlândia e da França, evidencia que é possível reverter cenários de desconfiança por meio de planejamento transparente, continuidade institucional e participação cidadã ativa. Ainda que esses modelos não possam ser aplicados de forma direta ao contexto brasileiro, eles oferecem caminhos que, se devidamente adaptados às realidades culturais, educacionais e políticas do país, podem contribuir para transformar a relação da sociedade com a energia nuclear. 64 Reconhece-se, entretanto, que este estudo se baseou exclusivamente em análise documental e indicadores secundários, o que limita a captação direta de percepções sociais. Essa limitação aponta para a importância de estudos futuros que incluam entrevistas e dados primários, especialmente em regiões diretamente afetadas por empreendimentos nucleares, como Angra dos Reis. Conclui-se, portanto, que o futuro da energia nuclear no Brasil dependerá da capacidade de articulação entre governo, setor produtivo, instituições científicas e sociedade civil. Somente por meio desse diálogo ampliado será possível garantir que a energia nuclear deixe de ser vista como uma ameaça distante e passe a ser compreendida como uma ferramenta legítima para o desenvolvimento sustentável, a soberania energética e a transição para um modelo de baixo carbono — justo, confiável e socialmente aceito.