Uma cartografia crítica das atividades econômicas no território brasileiro : observações do período recente (2010-2024)

Abstract

Este trabalho analisa a redistribuição espacial da atividade econômica no território brasileiro entre os anos de 2010 e 2024, a partir de uma análise baseada em dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) seguindo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0). A pesquisa investiga como a centralidade produtiva tem se reorganizado em escala regional, com ênfase nas Regiões Geográficas Imediatas (RGIs), unidade definida pelo IBGE para captar fluxos funcionais entre os municípios. A metodologia adota abordagem quantitativa e espacial, utilizando ferramentas de geoprocessamento e cartografia temática para mapear os vínculos formais de trabalho em cinco grandes atividades econômicas: a) agricultura e atividades primárias; b) indústrias extrativas; c) indústrias de transformação; d) comércio e reparação de veículos; e) informação e comunicação. Os dados foram tratados e agregados em planilhas eletrônicas e representados em mapas temáticos com uso do software ArcGIS. As análises foram apoiadas pelo referencial da Geografia Econômica, da Teoria dos Lugares Centrais (Christaller, 1966), da Central Flow Theory (Taylor et al., 2010), dos circuitos da economia urbana (Santos, 1970) e dos estudos sobre reestruturação produtiva e desenvolvimento desigual Diniz, 1993). Os resultados indicam uma desconcentração econômica relativa, com a emergência de novos polos de centralidade em regiões antes periféricas, notadamente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Cidades médias como Sorriso (MT), Petrolina (PE) e Fortaleza (CE) ganham relevância na rede urbana nacional, enquanto grandes metrópoles mantêm sua hegemonia de forma funcional e seletiva. A pesquisa conclui que o território brasileiro passa por uma reconfiguração hierárquica, marcada pela interiorização do crescimento e pela especialização regional, em que a centralidade econômica depende da inserção nos fluxos produtivos e informacionais. O uso da cartografia crítica e dos Sistemas de Informação Geográfica se mostra fundamental para interpretar os processos recentes de organização espacial da economia brasileira.