Entre o real e o sobrenatural: a construção heterodiscursiva e dialógica do fantástico em Água Funda, de Ruth Guimarães

Abstract

Este artigo analisa a construção do fantástico na obra Água Funda (2018), de Ruth Guimarães, especificamente, sua relação com o folclore brasileiro, Bakhtin (2002; 2011; 2015), e Todorov (2017). Partindo do conceito de fantástico como hesitação entre o real e o sobrenatural (Todorov, 2017), a narrativa articula elementos do imaginário popular - em especial a figura da Mãe de Ouro - com questões sociais e identitárias do Brasil moderno. A análise revelou que a obra opera uma síntese entre o regionalismo e o fantástico, característica que a distingue no panorama do modernismo brasileiro. Ademais, utilizando o conceito bakhtiniano de heterodiscursividade (Bakhtin, 2015), o estudo evidenciou como os conflitos entre diferentes vozes sócio-ideológicas contribuem para o efeito de ambiguidade e hesitação na narrativa. Conclui-se, assim, que Água Funda representa uma contribuição singular à literatura brasileira, ao ressignificar tradições folclóricas através de uma linguagem literária inovadora, que subverte as fronteiras entre oralidade e escrita.