Dieta e contaminação por microplástico em camarões pelágicos de profundidade da espécie Acanthephyra curtirostris Wood-Mason & Alcock, 1891 (Decapoda; Caridea; Acanthephyridae) coletados na Zona Econômica Exclusiva Amazônica, Brasil

Abstract

O presente trabalho possui dois capítulos, o primeiro teve por objetivo geral analisar a dieta da espécie Acanthephyra curtirostris (Caridea, Acanthephyridae) e se existem influências na dieta em parâmetros como o sexo e profundidade. O capítulo 2 estima por avaliar os níveis de contaminação por microplásticos nessa espécie, coletados na região mesopelágica da Zona Econômica Exclusiva do Norte do Brasil. O material estudado foi coletado durante a expedição oceanográfica Amazomix, ocorrida no ano de 2021, na região offshore adjacente à foz do Rio Amazonas, nas isóbatas de 500, 800 e 1000 metros de profundidade. Os espécimes de A. curtirostris foram mensurados (mm) e pesados (g). Um total de 51 indivíduos foram selecionados para a análise de conteúdo estomacal para a elaboração do capítulo 1. Acanthephyra curtirostris apresentou hábito alimentar carnívoro, registrando-se nos estômagos os itens alimentares nas seguintes proporções: Crustacea (61,14%), matéria orgânica não identificada (MONI) (36,30%), Actinopterygii (1,10%), material animal não identificado (1,07%) e Mollusca (0,38%). O teste de Kruskall-Wallis não detectou diferenças significativas na dieta de espécimes que se encontram em diferentes profundidades (500, 800 e 1000 metros) e entre classes de tamanho, mas foi possível encontrar diferenças significativas entre a dieta de fêmeas e fêmeas ovígeras. Para o capítulo 2 foram separados 60 espécimes. Após a remoção, os estômagos foram digeridos e filtrados seguindo um rigoroso protocolo para evitar contaminação aérea das amostras. As amostras foram identificadas quanto à cor, tamanho e formato das partículas. Foram identificadas 34 partículas de origem antrópica e caracterizadas como microplásticos. As partículas foram classificadas com fibras (32%), fragmentos (32%) e filmes (35%), e com colorações diversas incluindo a cor preta (26%),transparente (6%), azul (32%), branca (6%) e vermelha (26%). O teste de Kruskal-Wallis não detectou diferenças entre os parâmetros não se diferenciam significativamente, com exceção do consumo de fibras por parte de fêmeas e fêmeas ovígeras. O teste de Correlação de Spearman detectou que não há correlações na contaminação e o peso do estômago, comprimento total e peso total dos espécimes. O registro destes contaminantes indicam a vulnerabilidade da espécie a contaminação por microplásticos. A diferença na contaminação de fibras entre fêmeas e fêmeas ovígeras, pode ser em decorrência da mudança do hábito alimentar causada pelo período de maturação, como foi observado no capítulo 1. A resposta do hábito alimentar carnívoro e da contaminação, oferece dados importantes sobre camarões pelágicos de profundidade, especialmente para a Zona Econômica Exclusiva do Norte do Brasil onde não se tem estudos sobre a ocorrência, contaminação e alimentação deste grupo.