Análise comparativa das trajetórias de derramamentos de óleo sob diferentes condições de forçantes oceânicas em um ambiente de macro marés na plataforma e região oceânica da margem equatorial

Abstract

A região ao largo da costa norte do Brasil integra a Margem Equatorial, uma nova fronteira para a exploração de petróleo e gás. Nessa área, o rio Amazonas sustenta ecossistemas diversos e complexos, incluindo corais amazônicos e extensos manguezais que cobrem 1713 km2. A região também é de grande importância para a pesca de subsistência, comercial e industrial. Apesar de sua relevância ecológica, blocos de exploração na Bacia da Foz do Amazonas têm atraído interesse para a prospecção de petróleo e gás. Atualmente, seis blocos estão em processo de aprovação, embora cinco tenham sido negados em 2018 devido à falta de infraestrutura e estudos adequados para gestão dos riscos ambientais. Além disso, estudos indicam a vulnerabilidade da região a derramamentos de óleo e a limitada capacidade de resposta para conter eventuais acidentes. Diante disto, este trabalho avalia o comportamento das trajetórias simuladas de óleo na região da Margem Equatorial próxima à foz do Rio Amazonas sob diferentes condições de forçantes oceânicas. Para isso, foram utilizadas as condições oceânicas (campos de correntes) resultantes dos experimentos computacionais AMAZON36, com saídas diárias (com e sem maré) e horárias (com maré) como forçantes para o modelo de derramamento de óleo MEDSLIK-II. Foram selecionados 2 períodos de 30 horas em 2015 que contemplassem os períodos de sizígia (29 a 31 de outubro) e quadratura (21 a 23 de outubro). A forçante atmosférica (ventos à 10m acima da superfície do mar), obtida para os períodos avaliados, foi obtida do produto de reanálise ERA5. Foram selecionados 55 pontos como localização para derramamentos fictícios, distribuídos em uma malha regular, para contemplar a plataforma continental e a região oceânica da área de estudo. Esse conjunto de 3 cenários de forçante (correntes diárias com maré, diárias sem maré, e correntes horárias com maré), dois períodos e 55 pontos, resultaram em 330 simulações de derramamento de óleo. Os resultados apontaram diferenças consideráveis quanto às estimativas das distâncias de transporte de óleo para as simulações sem maré, com diferenças médias maiores que 20 km quando comparadas aos cenários com maré. A inclusão das marés também resultou em uma redução nas distâncias percorridas pelo óleo devido ao efeito oscilatório da maré. Em particular, os cenários com forçantes horárias evidenciaram trajetórias mais curtas e restritas, apresentando distâncias de transporte reduzidas em mais de 30% quando comparadas àquelas dos cenários com forçantes diárias. A elevada variabilidade espacial das trajetórias foi primariamente influenciada por feições de mesoescala, incluindo a retroflexão da Corrente Norte do Brasil e a pluma do rio Amazonas. Estas características foram responsáveis por redirecionar as manchas de óleo e influenciar os ângulos de trajetória em até 45o. Os achados enfatizam a importância de incorporar aos modelos de previsão marés e dinâmicas de mesoescala de alta-resolução, visando melhorar as previsões das trajetórias dos derramamentos. Por último, apesar desses achados implicarem grandes avanços na compreensão da dinâmica dos derramamentos de óleo na Margem Equatorial, ainda existem grandes lacunas quanto à validação de modelos de óleo nessa região e em outras regiões de baixa-latitude.