Envelhecer nas ruas : tecendo os fios que amarram a pessoa idosa à vida

Abstract

A população idosa em situação de rua é um fenômeno extremamente complexo e multifatorial. Trata-se de uma problemática que evidencia a exclusão social e a falha das políticas públicas na garantia de proteção integral a essas pessoas. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo analisar o discurso de pessoas idosas em situação de rua, valorizando a singularidade de suas trajetórias e destacando as múltiplas formas de subjetivação. Trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa e exploratória. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas na íntegra, além da aplicação de um questionário sociodemográfico. O método empregado foi a análise do discurso, que, a partir da discursividade e da repetição nas falas dos entrevistados, permitiu identificar temas recorrentes, tais como: o processo de envelhecimento e a rualização; os principais determinantes que os levaram à situação de rua; as relações familiares; a dimen são da saúde mental e fisica; a percepção sobre os serviços públicos; os fatores que mantêm as pessoas idosas em situação de rua vinculadas à vida; as formas de subjetivação. Foram entrevistadas 12 pessoas idosas em situação de rua, sendo 11 homens e apenas uma mulher, com faixa etária entre 60 e 78 anos. A pesquisa foi realizada nos Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua (Centro POP), um serviço especializado de média complexidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), na cidade do Recife, entre junho e setembro de 2024. RESULTADOS: 0 tempo em situação de rua variou entre três e 15 anos; dos 12 participantes, apenas dois recebiam o Beneficio de Prestação Continuada (BPC), enquanto os demais eram beneficiários do Bolsa Família (sendo que um estava com o beneficio bloqueado); quanto ao recorte racial, apenas um participante se autodeclarou branco, e os demais eram negros (pretos e pardos); quanto ao gênero, apenas uma mulher participou da pesquisa. DISCUSSÃO: em suas narrativas, os participantes relataram diversas questões relacionadas à vivência nas ruas e suas implicações: solidão, medo, angústia, desamparo, além de diversos atravessamentos, como questões familiares, dependência química e a assistência das políticas públicas. A rualização na velhice é marcada por múltiplas determinações e coloca os idosos em condição de vulnerabilidade física e emocional. CONCLUSÃO: Embora vivam em condições degradantes e inóspitas, que culminam em adoecimento fisico e emocional, exclusão social e invisibilidade, além da falta de políticas públicas adequadas à sua realidade, observou-se que essas pessoas idosas encontram formas de se apegar à vida e lidar com as adversidades. Elas possuem ancoragens que as sustentam, desde estratégias de sobrevivência diária até o apoio (mesmo que limitado) de políticas públicas ou a esperança de superar essa condição no futuro. Todos esses fatores funcionam como fios que as mantêm vinculadas à vida.