Insegurança alimentar em pessoas que vivem com HIV/AIDS : uma análise das vulnerabilidades sociais, de saúde e nutricionais

Abstract

Pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) possuem alta vulnerabilidade para a Insegurança Alimentar (IA) e essa situação afeta negativamente a condição de vida e de saúde. Os indivíduos acometidos por este agravo cursam com inúmeras repercussões no seu estado nutricional. Em associação, tem-se o consumo alimentar inadequado com dietas ricas em gorduras, carboidratos simples e sódio, e pobres em fibras. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a IA e o Consumo Alimentar em PVHA e sua associação com variáveis socioeconômicas, demográficas, nutricionais e de saúde. Estudo transversal, de caráter analítico e abordagem quantitativa, realizado entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023, com PVHA, de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos, acompanhados em um ambulatório de um Hospital Escola do Recife. Foram coletadas informações demográficas, socioeconômicas, de saúde e ambientais, dados antropométricos, do consumo alimentar e da IA. Para avaliação do perfil antropométrico considerou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), Circunferência do Braço (CB), da Cintura (CC) e Razão Cintura-Estatura (RCE). A IA foi avaliada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) e o consumo foi mensurado através de um questionário de frequência alimentar e avaliado pela média do índice da Frequência de Consumo da média de ingestão dos alimentos in natura/minimamente processados, processados e ultraprocessados. A regressão logística binária foi adotada na avaliação dos fatores associados à IA e ao consumo alimentar, sendo apresentadas as razões de prevalência brutas e ajustadas. Adotou-se como significância estatística de p<0,05. Participaram do estudo 285 indivíduos, com idade média de 42 anos, cuja prevalência de IA foi de 68,1%. Referente ao estado nutricional, 59,3% apresentaram excesso de peso segundo o IMC e 24,9% tinham desnutrição pela CB. De acordo com a CC e a RCE, em ambas as medidas, 56,1% dos avaliados possuíam risco para doenças cardiovasculares. A IA teve associação significante com idade até 42 anos (RP=1,90) , sexo feminino (RP=2,72), renda abaixo de 2 salários-mínimos (RP=2,67), pertencentes as classes socioeconômica D e E (RP= 2,57) e com teto de telha de barro ou de fibrocimento ou PVC (RP=2,04). O consumo de alimentos in natura/minimamente processados foi significantemente maior nos participantes pardos (RP=2,12), pretos (RP=1,37) e sedentários (RP=1,84). Enquanto o consumo dos alimentos processados foi com a renda mensal de até 2 salários-mínimos (RP=2,19). Nos ultraprocessados houve associação significante com ensino médio/superior (RP=2,26; p=0,006), que consumiam bebida alcoólica (RP=2,47; p=0,001) e eram sedentários (RP=2,32; p=0,004). Conclui-se que PVHA possuem elevada prevalência de IA, com associação às condições socioeconômicas desfavoráveis e, o consumo alimentar inadequado está associado à melhor escolaridade e ao estilo de vida (sedentarismo e consumo de álcool). Portanto, intervir no ciclo IA-HIV/Aids e nas práticas alimentares é condição para melhora da qualidade de vida, promoção da segurança alimentar e até mesmo redução da estigmatização desta população.