Efeito de zonação e de área marinha protegida sobre as macroalgas de recifes tropicais rasos no Atlântico Sul

Abstract

Os recifes de corais vêm sofrendo com pressões globais e locais, levando ao declínio na cobertura de corais e aumento de macroalgas. As áreas marinhas protegidas são ferramentas fundamentais para a conservação desses ecossistemas, contribuindo para a manutenção das populações de herbívoros que auxiliam no controle das algas. Os recifes do complexo recifal de Tamandaré, são dominados por macroalgas e situam-se em um mosaico de unidades de conservação, tendo uma Zona de Preservação (ZPRE) de acesso fechado que proíbe qualquer tipo de extração de organismos marinhos. O objetivo do trabalho foi investigar a distribuição, frequência relativa e ocorrência das categorias bentônicas , com ênfase nas macroalgas, a partir do método de foto quadrado, raspagem e análise de material biológico em laboratório. Com o histórico declínio de corais para a região, levantamos a questão de como a área de acesso fechado (ZPRE) influencia a cobertura bentônica em possíveis regimes dinâmicos de circulação e energia (back reef x canal), levando em consideração a alta abundância de peixes recifais herbívoros na área fechada. Para isso, foram realizados censos visuais de peixes herbívoros itinerantes, a fim de analisar a relação da sua abundância com a estruturação da comunidade de macroalgas, sobre o efeito da área fechada (ZPRE). O turf calcário foi o grupo mais abundante em todos os recifes estudados (>60%), não sendo afetado pelo regime de proteção. Entretanto, na zona de back reef foi registrada uma queda significativa de quase 20% na sua frequência, dando espaço para a Halimeda se desenvolver. As análises apresentam claramente uma diferença significativa na estruturação das macroalgas, tendo o turf calcário relacionado às zonas de canais e Halimeda aos back reefs. Ao mesmo tempo, as algas mais consumidas pelos hervívoros (folhosas corticadas e turf de algas corticadas) foram significativamente mais abundantes na área aberta, onde a pesca é permitida. O turf calcário revelou ser composto principalmente pelos gêneros Jania/ Amphiroa, e diferentes grupos morfofuncionais de algas envolto a essa matriz de algas calcárias. O grupo morfofuncional das algas filamentosas, associadas ao turf calcário, foram influenciadas pelo regime de proteção, sendo mais abundante na zona de canal da área aberta, podendo estar associado a distribuição de peixes herbívoros. A biomassa média de indivíduos adultos por 100 m2, de peixes da família Acanturidae e Scarini, foi significativamente maior na área fechada, onde estas espécies formam grandes cardumes mistos. Nossos resultados indicam que a alta abundância de peixes herbívoros pode influenciar a composição e distribuição das algas calcárias articuladas, corticadas, folhosas corticadas e

filamentosas. O aumento da dominância por macroalgas é resultado de efeitos sinérgicos entre a diminuição de peixes herbívoros, causado pela sobrepesca, e a frequência dos fatores que favorecem a competição para as macroalgas nos recifes, como o aumento de nutrientes, sedimentação e ondas de calor. As previsões futuras mostram cenários preocupantes sobre o funcionamento dos recifes de corais, identificar as funções e relações ecológicas em curso, principalmente sobre a estruturação dos grupos formadores de turfs, pode auxiliar nas futuras tomadas de decisões e estratégias para conservação dos recifes de corais.