Massacres escolares no Brasil : a violência extrema contra as escolas em uma perspectiva arendtiana

Abstract

A presente de tese de doutorado tece uma reflexão sobre os massacres escolares, examinando o fenômeno da violência extrema através do referencial filosófico de Hannah Arendt. A pesquisa parte do conceito arendtiano de violência, articulando-o com as manifestações do fenômeno da violência extrema contra as escolas, junto a outros constructos teóricos da autora. Essa análise não apenas amplia a compreensão dos massacres escolares em sua dimensão conceitual, mas também fenomênica, iluminando uma realidade muito presente no Brasil nos últimos 20 anos. Um olhar cuidadoso para o problema aponta que a manifestação de violência contra as escolas está longe de ser superada. A preocupação no seio das escolas, dos governos, das universidades e da sociedade civil se acentua, mobilizando recursos e pesquisas em torno do dilema. Em vista disso, o arcabouço teórico arendtiano vem nos ajudar a compreender a questão a partir de outro viés, que não é comumente adotado, o que nos oferece novas possibilidades de mobilizar o pensamento e uma discussão sobre possíveis caminhos para superar a crise. O objetivo geral desta tese é: compreender a concepção de violência no pensamento de Hannah Arendt e sua contribuição frente à violência extrema contra as escolas no contexto atual brasileiro. E os objetivos específicos: a) Refletir sobre a noção de violência no pensamento arendtiano; b) Discutir alguns elementos presentes na configuração da violência extrema contra as escolas; c) Elucidar as contribuições do pensamento arendtiano para uma possível reconciliação frente à violência contra as escolas. Metodologicamente, a pesquisa é de natureza bibliográfica, utilizando a hermenêutica como técnica de interpretação dos textos. A abordagem é ensaística, permitindo uma

reflexão aberta e dialógica sobre o tema estudado. A estrutura do trabalho organiza- se em quatro momentos: o primeiro diz respeito à própria introdução, onde o objeto

de investigação da tese será posto em discussão; o segundo momento é aquele em que refletiremos sobre a noção de violência no pensamento arendtiano; o terceiro discute as fronteiras entre o poder e a violência, a violência nazista, a banalidade do mal e as motivações dos massacres escolares; o quarto debate sobre violência e educação, bem como a importância das categorias políticas do perdão e da promessa diante da violência contra as escolas. Entre as principais contribuições desta pesquisa, destacam-se as seguintes achados: a ilusão do progresso trazido pela modernidade, que gerou mais violência e minou a experiência do comum; a correlação entre o crescimento da violência contra as escolas e a ascensão de tendências autoritárias, que reativam elementos totalitários na sociedade; a erosão do espaço público e a ruptura da tradição e autoridade, elementos centrais na análise arendtiana da crise moderna; a aproximação entre os massacres escolares e a noção de banalidade do mal, que expõe a dessensibilização perante a violência; o potencial reconciliatório do perdão e da promessa, possíveis vias para uma convivência mais suportável após eventos traumáticos de violência; dentre outras contribuições. Finalmente, a resposta à pergunta que mobiliza a pesquisa — como a perspectiva arendtiana pode contribuir para a compreensão das manifestações da violência extrema às escolas no atual contexto brasileiro — leva-nos a refletir sobre qual mundo queremos entregar aos novos e aos jovens.