Sob o peso da cidade, o ritmo da festa: São José, o Carnaval e as tramas entre a materialidade e a imaterialidade (1930-1980)

Abstract

A transformação urbana no bairro de São José, berço do Carnaval do Recife, revela a inseparabilidade entre as dimensões materiais do patrimônio – representadas pelo tecido edificado, ruas e espaços públicos – e as práticas imateriais que definem a identidade cultural local. Entre as décadas de 1930 e 1980, a modernização e as intervenções urbanísticas reconfiguraram não apenas o espaço físico do bairro, mas também a dinâmica festiva, impactando a tradição do Carnaval de rua e o funcionamento das redes sociais que o sustentavam. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar, por meio de uma abordagem histórico-morfológica e cultural, como se estabeleceram as relações entre o patrimônio material e imaterial em São José, a partir do estudo do Carnaval e das transformações urbanas do período. Dessa forma, constatou-se que, inicialmente, o intervencionismo modernista – ao remodelar o centro urbano e "rasgar" o tecido de São José – ocasionou o esvaziamento de comunidades tradicionais e a perda da espontaneidade dos festejos. Em seguida, observouse que o Carnaval evoluiu, transitando do modelo dirigido para um espetáculo organizado, em sintonia com os processos de verticalização e reestruturação do espaço urbano. Por fim, os esforços de protecionismo e as políticas de preservação, exemplificados pelo Plano de Preservação dos Sítios Históricos, buscaram resgatar as práticas culturais populares e restabelecer a conexão entre território e festejo, o que ressalta a necessidade de integrar, de forma efetiva, as dimensões tangível e intangível na construção da identidade local. Ainda assim, persiste o desafio de abordar de maneira indissociável a relação entre a materialidade e suas dimensões imateriais, que são intrinsecamente ligadas ao simbolismo das práticas culturais.