Identificação de marcadores genômicos associados à tuberculose em indivíduos antigos das Américas

Abstract

A Arqueogenética é área da Arqueologia que nos conduz ao limiar entre biologia e humanidades. Sendo um campo em rápida e franca expansão, é fascinante que uma das fontes mais importantes sobre o passado humano esteja dentro de nós. Outro pequeno fator, ou melhor, ser, que também se esconde dentro de nós são os patógenos – bactérias, vírus, protozoários e outros seres que mudaram, mais que qualquer outro fator, a história humana. Dentre eles está o causador da temida Tuberculose, uma das doenças que mais matou pessoas ao longo da história, sendo por isso conhecida como “a maior assassina de todos os tempos”. Todavia, apesar de ser uma das doenças infecciosas mais estudadas ao longo dos anos, pouco ainda se compreende sobre essa infecção, a relação patógeno-hospedeiro e outras nuances. Nesse contexto, considerando a hipótese de que a Tuberculose existia nas Américas antes do contato europeu, o presente trabalho objetiva apontar marcadores genéticos que estão associados à suscetibilidade ou à resistência à doença no continente Americano antes da chegada dos colonizadores europeus, e com isso tecer hipóteses e questionamentos sobre a sua distribuição e prevalência no continente. Para tal, realizou-se um extenso levantamento bibliográfico acerca da Tísica Pulmonar e das alterações genéticas associadas à mesma. Com uma abordagem da Arqueogenética, tendo um DNA antigo como fonte, junto a um olhar da Arqueologia da Doença, visto que estudar as patologias de um grupo auxilia na reconstrução e compreensão de aspectos do cotidiano desse grupo, aplicaram-se técnicas da Bioinformática para buscar no conjunto amostral analisado – sendo este referente a 224 indivíduos advindos de distintos sítios arqueológicos das Américas, trabalhados por Santos (2020) em sua tese e por Lindo e colegas (2018) em um artigo – as alterações genéticas outrora levantadas. Em razão disso, através da elaboração de gráficos para uma melhor visualização dos resultados, foi possível observar uma maior predominância de alterações que causam suscetibilidade à Tuberculose pelos povos originários da América, o que pode ter sido um fator de causa para o grande número de mortes que ocorreu com a chegada dos colonizadores e da variante europeia da doença. Destarte, a pesquisa também levanta alguns questionamentos acerca da origem da Tuberculose no continente Americano e reforça a importância de se debruçar sobre a doença e seu patógeno, bem como a relação de patógeno-hospedeiro que o mesmo, possivelmente, possui com a espécie humana, acreditando que este seja um campo frutífero para futuros estudos.