Impacto da COVID-19 no panorama da tuberculose em Recife

Abstract

A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa histórica que ainda apresenta altas taxas de incidência e mortalidade em países emergentes, como Índia, China e Brasil, ocupando posição de destaque entre as doenças infectocontagiosas mais mortais do mundo. Em Recife, a TB é um problema de saúde pública significativo e enfrenta desafios relacionados ao diagnóstico precoce, ao tratamento e ao acompanhamento dos pacientes, e, com a chegada da COVID-19, o controle da TB piorou, sobrecarregando os serviços de saúde. A COVID-19, é uma doença infectocontagiosa que, em 2022, foi capaz de superar o número de mortes da TB. Devido às semelhanças entre essas duas enfermidades e o impacto que uma co-infecção pode ter na progressão da TB, este estudo observacional do tipo caso-controle buscou avaliar o impacto da COVID-19 no perfil de morbimortalidade da TB entre o período de 2017 a 2022 no Recife e analisou os fatores de risco associados à ocorrência da evolução clínica e da mortalidade entre os casos TB/COVID-19. A análise foi realizada a partir dos dados secundários dos bancos de notificação dos casos de TB (SINAN), dos casos de COVID (eSUS e Notifica-PE) e do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) do município de Recife. O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética de pesquisa (CAAE: 68706023.3.0000.5190). As informações coletadas foram submetidas à análise no programa STATA 14 e os dados analisados foram considerados como estatisticamente significativo a um P-value <0,05. Nossos resultados sugerem que o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes com TB em Recife não sofreu mudanças devido a COVID-19. Pacientes com HIV apresentaram efeito protetor para desenvolvimento de COVID-19 grave (OR = 0.75, p-value = 0.000). TB mista têm maior chance de desenvolver COVID grave (OR = 4.91, p-value = 0.000), assim como pacientes que abandonaram o tratamento de TB (OR = 4.08, p-value = 0.000) ou foram transferidos de locais de assistência (OR = 4.78; p-value = 0.000). O grupo C apresentou efeito protetor para óbito por TB, e quase 200 vezes maior chance de óbito por COVID-19 (198.8; p-value = 0.000). Ademais, a integração desses dados epidemiológicos e clínicos possibilita formular estratégias de saúde pública mais eficazes, garantindo melhor cuidado para os pacientes e uma resposta mais eficiente às emergências de saúde global.