A construção do ethos como estratégia anticapacitista : um estudo embasado na Teoria Crip

Abstract

O presente trabalho busca analisar como a construção do ethos influencia na tentativa de desconstruir o capacitismo. Para tanto, serão utilizados discursos de pessoas com deficiência (PcDs) extraídos do canal TED/TEDX, da plataforma online Youtube. Sabe- se que essas pessoas, em seus discursos, têm como principal objetivo desconstruir a imagem abjeta que a PcD possui na sociedade. Assim, nos propusemos a estudar como a construção de si no discurso sustenta essa luta no discurso contra a abjeção. Consideramos, para isso, o discurso como uma ferramenta ideológica para desconstrução do poder, como proposto por Fairclough (2001), e também o desdobramento da Teoria Queer/Crip, fundamentada por McRuer (2021) como estratégia de utilização do discurso negativo do algoz como forma de enfrentamento social. Como parte da fundamentação, nós nos apoiamos em Amossy (2015) e nas noções de Mangueneau (2014) sobre a construção do ethos. Segundo os autores, o ethos discursivo não é uma estratégia que pode ser aplicada facilmente por meio de regras pré-existentes, ele se constrói no decorrer do discurso por meio de colocações implícitas na enunciação do fiador. Por esse motivo que se faz necessário utilizar a teoria da Análise Crítica do Discurso (ACD) como pano de fundo que dará sustento às implicações sociais sutilmente desenvolvidas nos discursos. Para tanto, analisaremos os discursos produzidos, buscando neles indícios de representações de si, com base na semântica, para compreendermos como o ethos se constitui neles, para que possa ser desconstruído o estereótipo de que a PcD é incapaz. A princípio, acreditávamos ser inquestionável a ideia de que a uma PcD pudesse, de alguma forma, querer se aproximar do padrão social pregado como ideal. Porém, depois de analisarmos os discursos individualmente e compará-los, percebemos que um se aproximava mais da ideia de se superar para alcançar um novo patamar social que os outros dois. Numa primeira impressão não há nada de inofensivo nesses discursos, mas com a leitura deste estudo, espero que a problemática da assimilação se faça evidente pra você. Percebemos, portanto, que Rosana Bastos é a locutora que mais tenta se assimilar ao ideal de normal pregado pela sociedade, enquanto que Guilherme Bara apresenta um discurso que o coloca num nível médio de assimilação e, por fim, Nathalia Blagevitch é a que mais se distancia dessa tentativa. Nesse sentido, entendemos como satisfatória a tentativa de desconstruir o capacitismo por meio do discurso.