A encruzilhada também é ponto de partida : experiências e práticas políticas em redução de danos com/por pessoas trans e travestis

Abstract

Esta dissertação teve como objetivo geral explorar narrativas sobre estratégias de Redução de Danos desenvolvidas por pessoas trans e travestis que atuam neste campo, investigando suas compreensões sobre Redução de Danos, cuidado e transfobia, de modo a dar visibilidade a experiências pouco conhecidas e, consequentemente, ampliando o conhecimento e contribuindo para a consolidação e expansão deste campo. A partir do nosso posicionamento construcionista e feminista em psicologia social, realizamos uma pesquisa qualitativa, cujo instrumento metodológico foram três rodas de conversas, tendo como interlocutoras privilegiadas pessoas trans que atuam na promoção da saúde por meio de estratégias de Redução de Danos, na Região Metropolitana de Recife, capital do estado de Pernambuco. No primeiro encontro, foi proposta uma oficina de colagem (com gravuras, imagens, ilustrações) de modo a produzir um primeiro momento de aproximações ao tema da Redução de Danos. No segundo encontro, focalizamos mais diretamente narrativas dos/das participantes em sua atuação como redutores de danos nas suas vidas e por fim, no terceiro encontro, realizamos uma atividade inspirada no Teatro do Oprimido, reproduzindo uma cena de abordagem e acolhimento na Redução de Danos. O exercício analítico resultou em três eixos de análise: 1) repertórios sobre Redução de Danos, 2) cuidado como fundamento para Redução de Danos e 3) transfobia nas encruzilhadas de gênero e saúde. Nossas análises denunciam, entre luzes e sombras, silêncios que permeiam os diálogos sobre transfobia, mesmo em um campo de promoção de direitos humanos, como se define a Redução de Danos. As pessoas entrevistadas evidenciam capacidade técnica de compreender os princípios e as diretrizes da Redução de Danos, entendida como importante tecnologia de promoção da saúde. Em suas narrativas, identificamos a Redução de Danos, na fala dessas pessoas como forma de sobreviver. Na mesma medida, as estratégias dessa sobrevivência se encontram numa encruzilhada que configura uma ética travesti. Nessa encruzilhada, trans- passsam questões estruturais historicamente fundamentadas. É necessário, portanto, compreender a promoção da saúde como tecnologia de cuidado que deve compreender e intervir sobre corpos vulneráveis, de modo particular e associado às condições que a vulnerabilizam, inclusive reconhecendo que a empregabilidade (ou a falta dela) é ainda um obstáculo, uma barreira, um condicionante para o pleno desenvolvimento da saúde da população trans em nosso país.