O circo-teatro de Dom Pantero : as aulas-espetáculo de Ariano Suassuna

Abstract

Tendo como objeto de estudo as aulas-espetáculo, criadas e proferidas pelo escritor Ariano Suassuna, buscamos compreendê-las investigando os elementos presentes nesse que foi o circo-teatro suassuniano. Para isso, realizamos uma pesquisa exploratória e inventariamos, a partir de um denso material coletado, as aulas- espetáculo disponíveis em audiovisual e completas. Para compreender seu contexto histórico, levantamos todas as matérias jornalísticas referentes aos espetáculos realizados pelo escritor paraibano, cruzando-as com as apresentações do literato. Durante as aulas-espetáculo eram apresentadas música, dança e o pensamento do escritor, presente em sua proposta de arte erudita brasileira inspirada na cultura popular. Todo ideário que preenche os espetáculos integra o Movimento Armorial, idealizado por Ariano. A partir daquilo que chamamos de “A espetaculosa Trilha das Aulas”, uma cronologia das aulas-espetáculo, descobrimos que as aulas precedem o período em que foram oficializadas (1995), e que, no caminho das aulas, arte e política estão entrelaçadas. Os espetáculos apresentavam cenários, música e dança, mas Suassuna era a figura central do espetáculo. No palco, ele era o palhaço e o dono de seu Circo da Onça Malhada, e nele o humor se sobressaia, alinhavando as apresentações do início ao fim. Houve uma transição das salas de aula para os palcos. Ao se aposentar como professor, Suassuna assume o papel de contador de histórias. Após elaborarmos “A Linha Armorial das Aulas-espetáculo”, traçamos o formato das aulas, bem como a performance de Suassuna no centro do picadeiro. Apesar de haver um roteiro pré-estabelecido, as histórias que o poeta contava nos palcos iam surgindo e guiando a aula. O educador se expressava também fazendo uso de gestual e de expressões faciais para alcançar o público. O espetáculo demonstrou ser mais complexo e completo do que uma aula. Sua obra póstuma, Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores, é uma espécie de palco literário, e traz a estruturação, preparação e a descrição da grande aula-espetaculosa planejada e realizada pelo personagem principal da trama. O escritor caminha da literatura para os palcos, onde ele se descobre no ofício de palhaço-professor. As duas expressões de sua arte se entrelaçaram enquanto ele atua em seu próprio papel, trazendo o palco para seus livros. Durante a carreira, Ariano apresentava ressalvas quanto aos veículos de comunicação massivos. Esse quadro começa a se reverter quando algumas de suas obras literárias passam a ser adaptadas para a TV e para o cinema. Há então a popularização da figura do teatrólogo. Mas a reconciliação com a mídia aconteceu de fato a partir do espetáculo suassuniano. A potência das aulas se confirmou a partir da criação de um quadro televisivo protagonizado pelo dramaturgo, intitulado O Canto de Ariano. E mesmo após seu falecimento, em 2014, as apresentações serviram de mote para o filme O Auto da Boa Mentira, e a série televisiva Histórias Quase Verdadeiras. A arte de fazer rir, assim como a figura carismática de Suassuna, foram os responsáveis por imortalizar as apresentações. E elas imortalizaram Ariano.