Entre dizer e negar : o discurso negacionista de Jair Bolsonaro sobre a Covid-19

Abstract

O presente estudo analisa o funcionamento do discurso de Jair Bolsonaro sobre a pandemia e seus efeitos de sentido sobre a vida e a ciência, mediante a análise das declarações do então presidente, registradas no Relatório final da CPI da Covid-19. Utilizando o aparato teórico da Análise de Discurso materialista, buscamos compreender o funcionamento dos discursos em análise, bem como estabelecer as condições de produção — que compreendem os sujeitos, a situação e a memória — dessa enunciação, a fim de apontar seus efeitos de sentido no que concerne a um modo de dizer do governo brasileiro, no período em análise, sobre a vida e a ciência, considerando-se que aquele que enuncia ocupava, então, o lugar de máximo representante da nação. Nesse caminho, pretendemos ainda pensar esse discurso ressignificado, em especial no Brasil, uma vez que foi ganhando força, corpo e voz oficial durante o período pandêmico, trazendo à tona processos de negação da ciência, do discurso científico, e de descaso com a vida. Ou seja, partimos da hipótese de que se trata de um discurso negacionista, atravessado pelas marcas do capital, e que está orientado pela premissa de que a economia precisa sobreviver ainda que, para isso, muitos tenham que morrer. Tais questões são tratadas, nessa direção, a partir da compreensão de que o lugar institucional a partir do qual se enuncia o dizer em análise produz efeitos nas práticas governamentais de Estado, que vão se pautando, por sua vez, pela implementação de um Estado mínimo. A partir das análises realizadas, foi possível observar que se trata, realmente, o discurso em análise, de um discurso negacionista, que se caracteriza por sua enunciação a partir da posição de presidente regida pela ideologia do capital, funcionando nas diferentes formas de profusão instaladas nas políticas governamentais do Estado brasileiro no período da Covid-19.