Excesso de peso e padrões alimentares de adolescentes no estado de Pernambuco : uma análise de seus determinantes em um cenário de vulnerabilidade social e econômica

Abstract

Frente a gravidade do excesso de peso na adolescência, o acompanhamento da situação de saúde e nutrição desse grupo é crucial, a fim de pensar e repensar em políticas públicas factíveis. Desse modo, o presente estudo teve por objetivo investigar os determinantes do excesso de peso e dos padrões alimentares em adolescentes no estado de Pernambuco. Para tanto, foi realizado um estudo transversal de base populacional e domiciliar, operacionalizado em bancos de dados da III (2006) e IV (2015/16) Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição (PESN) de Pernambuco referentes a população de adolescentes de 10 a 19 anos, de ambos os sexos. Foram obtidos dados socioeconômicos, ambientais, antropométricos, comportamentais, do consumo dietético e segurança alimentar. O excesso de peso foi mensurado pelo Índice de Massa Corporal/Idade e teve como ponto de corte um escore Z >1. As razões de chance bruta e ajustada foram calculadas para as variáveis explicativas utilizando a regressão logística múltipla com modelo hierarquizado. O consumo alimentar foi avaliado por meio de um questionário de frequência alimentar qualitativo. Os padrões alimentares foram determinados pela análise fatorial, e para as associações utilizou-se a regressão logística binária. Com a análise da variação temporal verificou-se um aumento de 60,1% (p<0,001) no excesso de peso (14,3% em 2006 e 22,9% em 2015/16). Em 2006, os resultados pós regressão evidenciaram que adolescentes residentes em domicílios menos numerosos (OR=1,9; IC=1,2-3,0), com posse de bens domésticos (possuir apenas três – OR=2,4; IC=1,1-5,1 ou possuir todos – OR=2,7; IC=1,3-5,5) e mães com excesso de peso (OR=2,6; IC=1,3-5,1) tiveram mais chances de apresentar excesso de peso. Já em 2015/16, as chances foram superiores naqueles pertencentes as classes C1 e C2 (OR=2,5; IC=1,3-4,7), em jovens do sexo feminino (OR=1,9; IC=1,0-3,4), na faixa etária de 10-14 anos (OR=2,2; IC=1,2-3,9), que tinham obesidade abdominal (OR=14,3; IC=7,1-28,5) e filhos de mães com excesso de peso (OR=3,6; IC=1,3-9,9). Com relação ao estudo dos padrões alimentares realizado com os dados da IV PESN, foram identificados três padrões dietéticos: “Ocidental”, “Misto” e “Tradicional”, que juntos explicaram 42,4% da variância de consumo. O padrão “Ocidental” (16,7% da variância) foi associado com as classes B2, C1 e C2 (OR=3,01; IC95%:1,3-6,8). O padrão “Misto” (14,9% da variância) foi relacionado com a insatisfação corporal (OR=2,71; IC95%:1,1-6,1) e insegurança alimentar leve (OR=2,38; IC95%:0,8-6,5). Já o padrão “Tradicional” (10,8% da variância) teve maior adesão pelos adolescentes que viviam em áreas rurais (OR=2,03; IC95%:0,9-4,5) e por aqueles em residências com mais de 6 moradores (OR=2,23; IC95%:0,9-5,4). A influência dos padrões alimentares no excesso de peso não foi confirmada (ocidental: p=0,76; misto: p=0,84; tradicional: p=0,11). Os achados constatam que houve aumento da prevalência do excesso de peso e modificações marcantes no padrão alimentar de adolescentes pernambucanos, enfatizando a demanda por políticas públicas efetivas que perpassem todos os ambientes nos quais o adolescente esteja inserido. Ademais, os resultados reforçam a consistente relação entre o excesso de peso e os aspectos ambientais e socioeconômicos.