Gestão de resíduos sólidos e a pandemia da COVID-19 : um estudo de caso sobre a situação dos catadores no Agreste Meridional de Pernambuco

Abstract

A pandemia da COVID-19 não só impactou os sistemas mundiais de saúde, mas também os diversos eixos de atividades da sociedade atual. As medidas restritivas para contenção da doença aumentaram o consumo de produtos descartáveis e a geração de resíduos sólidos. Nesse período pandêmico, a utilização de equipamentos de proteção individual tornou-se fundamental para evitar maiores índices de contaminação, tanto no ambiente hospitalar quanto no doméstico, resultando no crescimento da geração de lixo biomédico domiciliar, com possibilidade de aumento do risco de propagação de doenças entre os catadores de materiais recicláveis e a comunidade. Partindo desse contexto, os setores responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) desenvolveram ações de reorganização logística e operacional para assegurar condições adequadas de saúde pública, garantir a proteção dos trabalhadores e prevenir a transmissão do vírus SARS-CoV-2. Essa realidade foi particularmente desafiadora para os pequenos e médios municípios, como Lajedo, no Agreste Meridional de Pernambuco, que congrega um consórcio intermunicipal para utilização de um aterro sanitário, em conjunto com outros municípios. Como consequência da pandemia, cerca de 420 catadores tiveram suas atividades de catação de recicláveis interrompidas. Nesse sentido, é importante que se tenha conhecimento sobre as influências da pandemia na vida e trabalho dos catadores, a fim de se compreender as implicações socioeconômicas e de saúde, que possam ter interferido na realização da coleta seletiva e no trabalho desses agentes ambientais. Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar o impacto que a pandemia da COVID-19 causou na atividade econômica, considerando o contexto social que envolve os catadores de materiais recicláveis das cidades consorciadas ao aterro sanitário de Lajedo. Para isso, foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental para contextualizar a temática RSU em nível Federal, Estadual e Municipal, no período de 2019 a 2022. Paralelamente, foi realizada uma pesquisa de campo, envolvendo a caracterização da área de estudo, o aterro sanitário e as cidades consorciadas. Para coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com gestores municipais e empresários da indústria de reciclagem, para descrever os efeitos ambientais e econômicos. Os catadores foram entrevistados por meio de questionários estruturados, a fim de identificar os impactos socioeconômicos e de saúde. Ao final da pesquisa, foi possível construir: (i) um panorama sobre a gestão dos RSU, demonstrando o aumento na produção dos resíduos, os desafios enfrentados pelos gestores, os ajustes na coleta domiciliar e as medidas de proteção do trabalhadores; (ii) um perfil socioeconômico dos catadores de materiais recicláveis, que atuam nas cidades consorciadas, mostrando predominância de homens, solteiros, com filhos, da zona urbana, com baixa escolaridade, que trabalham cerca de 8 horas, coletam sozinhos nas residências, negociam o material com compradores da cidade e que ficaram mais de 1 mês parados na pandemia, recebendo o auxílio emergencial do Governo; e (iii) um mapa das fontes de mercado da reciclagem, sendo identificados 8 empresários na área de estudo, que fecharam seus negócios por um período, relatando uma queda na quantidade e valor dos recicláveis, com posterior aumento de preços.