Impactos socioambientais de uma mineradora sob a ótica dos/as moradores/as de territórios adjacentes

Abstract

A mineração tem grande importância econômica no Brasil, isto é um fato que não se pode negar, sobretudo em função da lógica inerente à formação histórico-territorial do país. Esta atividade produz impactos socioambientais negativos de grandes dimensões, os quais parecem ser difíceis de controlar. As populações do entorno desta atividade são as mais afetadas, sendo importante que estes sujeitos coletivos percebam suas próprias condições de existência, a fim de elaborarem uma concepção crítica ao que estão sendo submetidos. O estudo objetiva analisar os impactos socioambientais da empresa de mineração de fosfato em Araxá-MG, tendo como ótica norteadora a visão dos moradores do entorno. Essa cidade foi objeto do estudo porque é o espaço onde a mineração é a maior geradora de divisas, possuindo duas empresas, uma responsável pela exploração de ferro nióbio e outra pela rocha fosfática. Do ponto de vista do método, o estudo foi realizado em quatro momentos: revisão bibliográfica e documental para conhecer o processo de lavra e beneficiamento do minério de fosfato e da produção de fertilizantes fosfatados; elaboração de uma adaptação da matriz de Leopold para avaliação dos impactos socioambientais oriundos das atividades do empreendimento; aplicação de questionário online com os(as) moradores(as) dos bairros considerados mais próximos ao empreendimento, o Conjunto Habitacional Boa Vista e a Vila Fertiza, permitindo traçar um perfil social dos moradores(as) dos bairros adjacentes para entender sua concepção em relação aos impactos socioambientais causados pelas empresas; e análise documental dos processos de licenciamento ambiental do empreendimento, para entender as atividades desenvolvidas e as práticas de gestão ambiental. A matriz de Leopold resultou na indicação de 245 impactos, dos quais 209 são negativos e 36 positivos que ocorrem em diferentes meios. A relação entre empresa e moradores(as) do entorno do empreendimento é fraca ou não existe, pois os(as) moradores(as) conhecem muito pouco das atividades da empresa, não reconhecendo os programas desenvolvidos por ela. Ressaltamos que há uma discrepância entre a condução da gestão socioambiental da empresa com as reais necessidades e anseios da população do entorno. Destacamos que a gestão socioambiental teórica, a qual exorta a necessidade de ouvir os(as) moradores(as) e considerá-los no processo de decisão, se difere da prática em que a população é consultada pró-forma. Evidenciamos que a tentativa do discurso neoliberal atual de internalizar as questões ambientais ao seu modus operandi afeta os mais frágeis.