Efeito da regeneração natural de uma floresta seca da Caatinga sobre a comunidade de nematoides do solo

Abstract

A Caatinga suporta processos crescentes de perturbações antrópicas, como por exemplo, a mudança de uso do solo para práticas agrícolas/pecuária, com posterior abandono da terra o que cria oportunidades de regeneração da floresta, revertendo os efeitos negativos causados pelo desmatamento. Contudo, a maioria dos estudos de regeneração tem se concentrado em comunidades vegetais, mas pouco se tem dedicado à biota do solo e a prestação do seus serviços ecossistêmicos. Os nematoides do solo são bons indicadores da estrutura e função do solo, tendo em vista sua posição na cadeia alimentar do solo e também pelo fato que reagem rapidamente às mudanças ambientais. Diante disso, nós avaliamos o efeito da regeneração natural da vegetação nativa da Caatinga sobre a estrutura de comunidade e funções ecossistêmicas fornecidas pelos nematoides, bem como o seu potencial de indicação da saúde do solo em áreas regeneradas. O estudo foi realizado no Parque Nacional do Catimbau, no agreste de Pernambuco (Nordeste do Brasil), abrangendo 607 km2 de vegetação de Caatinga. Foram selecionadas 4 (quatro) áreas, 3 (três) com vegetação em estágios de regeneração inicial (4 anos) , média (17 anos) e avançado (45 anos) após o abandono da atividade agrícola e 1 (uma) área foi caracterizada como sem histórico de agricultura (floresta madura). Em cada área , foram analisadas a abundância e biomassa de carbono total dos nematoides e de cada grupo trófico (bacteriófagos, fungívoros, parasitas de plantas e onívoro-predadores). Um total de 13 famílias foram identificadas, onde a floresta madura e em regeneração média apresentaram maior riqueza com 10 famílias identificadas. Dentre as diferentes áreas, o estágio inicial e floresta madura teve a menor e maior abundância de nematoides, respectivamente. Nos grupos tróficos, os bacteriófagos foram predominantes com 61,91%, seguido dos parasitas de plantas (27,77%), fungívoros (5,63%) e predadores (4,67%). Apenas os bacteriófagos e parasitas de plantas diferiram significativamente entre as áreas. Os bacteriófagos foram mais abundantes no estágio final, seguido do estágio médio, floresta natural e estágio inicial. Já os parasitas de plantas foram mais abundantes na floresta natural do que nas demais áreas. Assim como os dados de abundância, a biomassa de carbono total dos nematoides, dos bacteriófagos e dos onívoro-predadores, dois grupos tróficos chaves na cadeia alimentar, foram maiores no estágio final de regeneração e menores nos estágios iniciais. A condição da cadeia alimentar dos estágios inicial, médio e avançado foram caracterizadas como degradadas, com canais de decomposição dominados por fungos. Já na floresta madura, a cadeia alimentar apresentou condições estáveis e férteis, com canal de decomposição dominado por bactérias. Concluindo, verificamos que alguns indicadores refletem uma possível reversão dos efeitos negativos gerados pela atividade agrícola na Caatinga, a diversidade mostrou uma recuperação do distúrbio mais rápida em relação às funções ecossistêmicas prestadas pela comunidade de nematoides.